sábado, 25 de dezembro de 2010

O caos interior


Enquanto respiro, sufoco.
Em cada riso, um suspiro, um desejo.
Em cada encontro, a vontade de ir embora.
Enquanto escuto, grito.
Enquanto digo, rezo.

"Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão"

Metade, Oswaldo Montenegro

Shhh

""Grite", ordenei-me quieta. "Grite", repeti-me inutilmente com um suspiro de profunda quietude. (...) Mas se eu gritasse uma só vez que fosse, talvez nunca mais pudesse parar. Se eu gritasse ninguém poderia fazer mais nada por mim; enquanto, se eu nunca revelar a minha carência, ninguém se assustará comigo e me ajudarão sem saber; mas só enquanto eu não assustar ninguém por ter saído dos regulamentos. Mas se souberem, assustam-se, nós que guardamos o grito em segredo inviolável.
C. Lispector, sempre dizendo por mim.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Desejos para o ano novo.

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez' "
Caio F.

É  de esperanças que se vive. Mesmo essas cinzas e aos pedaços. Essas coisas que a gente quer acreditar. Precisa acreditar. Vai que uma hora eu me convenço disso. Vai que uma hora isso acontece mesmo.
Ahh, essas doces esperanças, tão esmaecidas pelo tempo, mas sempre tão presentes.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Palhaçada


"Sou palhaço do circo sem futuro
Um sorriso pintado a noite inteira
O cinema do fogo
Numa tarde embalada de poeira

E a lona rasgada no alto
No globo os artistas da morte
E essa tragédia que é viver, e essa tragédia
Tanto amor que fere e cansa"

Cordel do Fogo Encantado

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

E o que fica?

Fui me tornando mais resistente à despedidas ao longo dos anos, mas hoje eu penso se aguentarei mais essa. Me despedir, depois de três anos, convivendo, todos os dias, na correria, passando apertos, amadurecendo, vivendo com vocês.




 




Hoje não é dia de meias palavras, não serei subjetiva e não haverá frases não entendíveis. Aqui é declarado o quanto amo vocês e não deixarei de amar.

Todos os dias de manha, quando o desejo de continuar na cama por mais algumas horas de sono quase gritava na minha cabeça, eu me levantava, saia com animo nenhum e lá estava vocês, na mesma vontade de ter ficado em casa, mas na mesma "alegria" de estar ali naquele lugar que tão carinhosamente apelidamos de inferno. Nosso inferno, eterno ceferninho.
Quando é que eu podia imaginar que aquela escola, que em pouco tempo se tornou a minha casa, me transfomaria mesmo.
Lembro até de alguem dizendo "sua cabeça vai mudar quando você entrar lá" e eu dizia "não, não vai". É, minha cabeça mudou, ainda bem. O cefet foi sim um dos fatores que mais me fizeram amadurecer. E vocês, turma mais foda de QUI e adjacentes fizeram parte disso. Porque ali nos entramos com a cabeça pequena e amadurecemos... na correria de todos os dias, seja vagabundando no protocolo (né Juh, Lah e Lalah), seja estudando desesperadamente de ultima hora (ou não) para provas absurdas e afins. Ali aprendemos que para todo ato nosso tem uma conseqüência e nos temos que arcar com elas.
Foram muitos momentos muito bons e outros tantos nem tanto, mas sempre juntos.
São lembranças que pretendo guardar pra sempre dentro de mim, assim como o que cada um de vocês me trouxe.
As colas absurdas nas provas de algumas materias (só algumas, claro), as divertidíssimas aulas do Caldeira Careca (alias, quem foram os vândalos que esvaziaram o pneu dele? xD), as aulas de educação sexual com nossa querida Flora... As atoisses na alzira, a guerra de balão d'agua e os piquiniques no campo, sanduQUIches e afins... A corrida desesperada para fugir da aula de Bio da louca vesga (e depois espancando ela, segundo a propria), seja dormindo proooooooofundamente nas aulas de corrosão, PI, OU e afins, a encheção de saco para adiar provas, relatórios e trabalhos, as desculpas pra tal... as façanhas de fazer 70mil coisas para a mesma semana, as noites no msn fazendo trabalho...

O mais importante é que dali eu vou levar mais do que um diploma de técnica em química, dali eu vou levar vocês. Eu vou levar a amizade, a confiança. A amizade que veio num abraço, numa lágrima, numa recuperação, num conflito, num ombro, num bar.

Não é aquela amizade que se resume em muita simpatia durante as aulas, não aquela que acaba quando as aulas acabam. É aquela que vai além. É aquela que larga tudo e vai comer panetone comigo quando o coração precisa de ajuda pra aguentar as coisas. É aquela que começa em leituras de blogs e se estende a infinitas confissões, abraços, mãos pequenas e opiniões parecidas (não é mesmo B1? xD). É aquela que a gente não lembra bem onde começou, mas sabe bem que não vai terminar, porque foi a que mais ensinou que  duas pessoas diferentes, com opinioes completamente diferentes, podem sim ter uma amizade que vai alem das  palavras, podem se tornar irmãs, perderem-se em abraços. É aquela que respeitas as diferenças de cada uma e a vontade de estar juntas, nos bons e nos maus momentos, cria uma laço tão grande que se torna inseparáveis. É também aquela que você acha que não existe, mas no momento que mais precisa, você descobre que está lá. É  aquela que você duvida, mas não te decepciona nunca. É aquela que te faz desabar pra te deixar mais forte. Que você duvida que pode existir por terem tanto em comum, mas serem tão diferentes que parece estranho se dar bem. É aquela que surge no bar quando se acha que está muito tarde pra isso, mas vê que nunca é tarde demais. É aquela que você sabe que existe, mas se mostra mais nos momentos mais avulsos. É aquela que diz o que pensa e você diz o que pensa, sem medo de machucar, porque se sabe que só o que se quer é que estejam melhores, mais fortes. É aquela em que realmente existe amor.

São laços de amizade e confiança como esses que tornam o que passou inesquecível. E não há muito o que dizer sobre a intensidade dessas coisas. Mas fica o aviso de que vou levar vocês comigo e que no peito grita uma imensa saudade que eu quero assassinar muitas e muitas vezes.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O anjo mais velho

"Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto... depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só"

O Teatro Mágico

[Des]medida

Aquela imagem ficou fixada em meus olhos por horas. Todo o resto que se passava no mundo eu olhava, mas não via, via apenas aquela cena. O espanto ficou estampado na cara e a dor me veio como um soco na cara. A lágrima ardida que não deixei cair, o choro apertado que não deixei sair, sufocado na garganta. Ficou ali por muito tempo. Desceu com muito custo, misturado com lágrimas contidas e alguns goles de rum. Passou. Por um momento muito curto, curto demais. Aos poucos o rum foi acabando, meu sangue concentrando e o peso daquela imagem recaindo lentamente sobre meus ombros. E foi pesando, pesando, me empurrando pro chão. A sensação é de que eu fiquei ali esmagada por horas, dias, meses. Os meses que se passaram, os dias, as horas, minutos, segundos. Tudo me doendo por dentro enquanto eu andava por algum lugar que já não fazia mais sentido. Lá estavam eles, naquela esquina, naquela praça, naquela outra rua, atrás de mim, na minha frente, ao meu lado. Lá estavam eles dentro da minha cabeça que já começava a explodir. Lá estava o pedaço do meu passado que até hoje não virou passado de fato. Ali estava este pedaço, dentro de mim, tentando me rasgar. Ah, mas eu só queria gritar, precisava gritar, precisava de um porre. Mas o grito não veio, o álcool não veio. Só a imensa vontade de fugir e me esconder. Mas... pra onde mesmo? Aí veio um momento de fogo e paz, mas tão fugaz... Fui embora me doer sozinha.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pintada com faixas

"Mas na estrada pintada com faixas ela havia se encontrado. Quando o sol raiava às suas costas naquela rodovia sem fim, quando a paisagem das grandes cidades dava vez aos longos campos verdes, às montanhas, ao som de ondas em um litoral infinito, eram nesses momentos que ela recarregava as baterias. Nesses momentos ela se sentia diferente. Sentia como se tudo aquilo pertencesse à ela. Um presente deixado ali para que encontrasse. Só para ela. Quantas pessoas tinham essa oportunidade? Quantas passavam por essa ou aquela rodovia em um único dia? Centenas. Quantas tinham a mesma iniciativa dela, de sair da moto, se sentar na beirada da estrada e observar as montanhas ao fundo dos enormes campos. Deixar os dedos afagarem a relva molhada, escutar o barulho de uma cachoeira, sentir o cheiro do mar. Depois voltar para cima da moto e mais uma vez partir."

Edgard♠♦O Pierrot♥♣ Antonello

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Voz, abrigo.

"All night long, I laid on my pillow
These things are wrong
I can't sleep here"


O dia fora uma merda. As coisas não deram certo e coisas certas foram perdidas. Os olhos ardiam imensamente com a vontade de chorar. O peso dos dias foram se debruçando lentamente até que naquele dia se tornaram excessivas demais. O caos mergulhado no silêncio caía-lhe como pesadas dobras do tempo.

Sabia que precisava de ouvir... qualquer pessoa. Tomar a dose de alguém. Ligou pra ele, desistiu. Ligou pra ela e ouviu a voz que precisava, em poucas palavras, como de costume, mas que a fez sorrir. Ela sabia que havia algo errado, mas respeitou o tempo-de-não-contar. Mas a saudade dela e vontade do abraço tornou-a muda e acabou desligando após uma breve despedida. Acalmou o coração e aquela pessoa surgiu no coração. Finalmente, ligou pra ele - aquele que apesar de tudo parecia que sempre esteve ali - e aquela voz sempre bem humorada a fez sorrir de verdade. Ouviu muitas palavras, falou poucas e no pouco que disse a resposta que teve à pergunta nenhuma foi "vou praí te ver." E daí acabou-se, a saudade precisava ser assassinada e ninguém a fazia esquecer dos problemas como ele. Mas só de ouvir aquela voz o jeito de dizer que "tudo vai dar certo, relaxa" já fez o dia melhor.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Moondance


Melhor que dizer-se livre e saber-se livre é sentir-se livre.
E acredite, a diferença é enorme.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

E toma mais um gole de café amargo.

Pra quem leu 'Sem Ana, Blues', do Caio F.

As vezes no 'momento depois' você pensa no 'momento quando' e é quase submergido. A respiração falha, o coração perde o ritmo e parece que aquele está sempre ali, até que você pensa: Já passou e cá estou eu. E da até vontade de dar um sorrisinho meio bobo, sem propósito, daqueles que não se estendem aos olhos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Abraço, abrigo.

Sabe qual é teu problema? Você se preocupa demais, as vezes. 
Vai, voa. 
Só você pode se conceder a liberdade que tanto quer.
Para de pensar que suas asas vão derreter se chegar muito perto do Sol. 
Experimenta não se preocupar em cair. 
Se a queda vier, aprenda, cresça, levante mais forte.

E lá estava ela, linda como sempre, em cima de uma salto vermelho sangue, fumando seu cigarro. A face de quem está perdida porque quer, o sorriso de quem sempre está aprontando alguma e os olhos desesperadoramente tristes.
Fiquei observando-a de longe por um tempo e fui de encontro aos tristes olhos. Ela apagou o cigarro ao me ver e me abraçou. Aquele cheiro... aquele abrigo...
Vai acabar ficando surda, com toda essa barulheira nessa altura, disse tirando os fones dos meus ouvidos. Dei de ombros.
Qual o problema? perguntou.
Não há nenhum, respondi. Foi inútil, ela me conhece melhor que qualquer um para saber que os cabelos presos, boca descolorida e Pantera tocando no talo nos fones significam muito mais que problema nenhum.
Nada que não vá passar se você esquecer esse assunto e me levar daqui, disse respirando fundo. Ela riu com os lábios vermelhos e entrou no carro. Mas eu estava sufocada e me demorei mais no ar frio da noite mal iluminada.
Pra onde? ela perguntou, mas já tinha o objetivo em mente. Sorri e fechei os olhos, encostando a cabeça no banco do carro. O cansaço me alcançava então.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Finge

"I don't wanna know
I don't wanna say
I don't wanna say
'Cos it's your life, your life, your life"


Finge que não há uma ferida aberta ali. Finge que é só uma cicatriz mal-curada, que as vezes coça e incomoda. Finge que não sente o cheiro de pus que sai dela.
Como se tampasse os ouvidos e gritasse para não ouvir, constantemente.

Deixa eu viver, me calar, fingir e rir. Deixa que da minha dor cuido eu. Afinal, venho fazendo isso há tanto tempo...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sereníssima

Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta meu desejo

Tente me obrigar a fazer o que não quero
E você vai logo ver o que acontece.
Acho que entendo o que você quis me dizer
Mas existem outras coisas.

Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades.
Tínhamos a idéia, mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de idéia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia.

Antes eu sonhava, agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe
Não entendo terrorismo, falávamos de amizade.

Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho mas
Não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser ficar.


Minha laranjeira verde, por que está tão prateada?
Foi da lua dessa noite, do sereno da madrugada
Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo.

Legião Urbana

sábado, 13 de novembro de 2010

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Amadurescência.

"Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão.” 
Clarice Lispector

As vezes é bom se jogar, mesmo que a gente acabe dando de cara na porta. E fico pensando enquanto ando pelas ruas fingindo não ter rumo... Depois da queda, levantamos mais fortes.

terça-feira, 2 de novembro de 2010


"Todo cavalo é selvagem e arisco quando mãos inseguras o tocam."

Clarice Lispector

Porto

Eu. Dança. Desejo. Fome. Suor. Abraços. Desenlaces.
Alcool. Palavras vomitadas. Frio. Lágrima. Beijo.
Conversas. Praia. Sede. Areia. Você.
Mordida. Fome. Suor. Lençois. Pele.
Alcool. Cigarro. Risos. Sonhos. Desejo. Fogo.
Olhos nos olhos.

"I have only one burning desire let me stand next to your fire"

domingo, 31 de outubro de 2010

Fugindo ao contrário.

Uma, duas, três, muitas. Muitas e muitas doses de tequila. Muitos e muitos goles de vodka. Muitas e muitas vontades.

Estava tonta, absurdamente tonta e olhava para o copo de vodka na minha mão enquanto me constatava deste fato. Já não lembrava mais o quanto tinha bebido, já não me importava as horas ou todos aqueles vultos que falavam tão alto. Alguém esbarrou em mim com demasiada violência e derrubou minha bebida. Praguejei alto, mas minha voz saiu estranha, como de quem estava prestes a chorar. De repente comecei a ter consciência da quantidade de gente que tinha a minha volta, do quão quente e abafado estava. Andei, corri, fugi. Esbarrei nas pessoas, na fuga desesperada, na ânsia da solidão momentânea, do meu encontro comigo mesma.
Alguém me segurou pela mão de modo assustadoramente firme e ao me virar, me vi mergulhada num abraço. Aquele abraço, aquele cheiro. E lá se foi todo o meu desespero, meu plano de fuga, toda minha ânsia de solidão momentânea. Porque era exatamente ali que queria estar. Era ali onde eu deveria estar. Era com ele, nos braços dele. Eu não queria fugir para ficar sozinha, eu queria ir para aqueles braços e respirar fundo.
Acho que não nasci pra ficar sozinha. Eu aprendi a ser sozinha porque precisei e no fim das contas acabei gostando mais que devia. E vou continuar, porque é bom. O que não muda o fato de que me sinto melhor no seu abraço do que quando sozinha.
Eu sei, eu me conheço. A sensação que tenho é que, no seu abraço, as cicatrizes são justamente isso: cicatrizes. Eu preciso de alguém que possa colher meus frutos, minhas flores. Preciso não, quero. Quero sim dividir meu calor com alguém.
E foi ali que minha noite ficou boa de novo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

(des)Encontros.

"If I lay here,
If I just lay here,
Would you lie with me and just forget the world?"

Quando a viu, ela estava sentado no meio fio. Observava os carros. Era noite e o intenso fluxo de carros lhe vinha como uma corrente de luzes amarelas, vermelhas, laranjas, por vezes brancas. Ela podia ficar horas ali, esquecendo-se de si. Parecia tão frágil ali sentada, encolhida, absorta em pensamentos. A vontade de abraça-la era imensa. Abraçá-la, sentir sua pele, seu cheiro, a textura de seus lábios. Como queria poder segurá-la em seus braços e tirá-la dali. Respirou fundo e caminhou...
Algo a fez acordar de seus pensamentos e virar para trás a tempo de vê-lo indo embora.

domingo, 24 de outubro de 2010

Skies on fire

"Tell me what it is you want it to be
What you want to be,
What you need in me,
tell me what it is you want it to be,
In the rain, in the streets,
Tell me what I see, how’s it got to be,


Hey you look in the sky, skies on fire
Look in the sky, flames burn higher,
Skies on fire,
Flames get higher,
Skies on fire,
I know you and you know me,
Tell me what is it you want to be,
Flames burn higher,
Skies on fire"

AC/DC, modificado

sábado, 23 de outubro de 2010


"O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído..."


Make a wish upon a [falling] star

Sim, Clarice. As estrelas estão caindo.
Elas caem, estou vendo isso em seus olhos doces.


Fechou os olhos e fez um pedido. Depois respirou fundo olhando para o copo quase vazio. O cansaço rastejante começava a subir pelo seu corpo excessivamente branco. Levantou-se, pagou a conta e foi embora. Ainda era cedo e a rua lhe animaria. Depois de um tempo de caminhada entrou em um bar excessivamente cheio. Alguma banda tocava um rock antigo que lhe inspirou uma tequila. Duas, três, muitas. Encontrou amigos, falou, riu, dançou, tirou os saltos e subiu a mesa.
Não dormiu aquela noite. Quando o efeito do álcool começou a passar foi ver o sol nascer no ponto alto da cidade. A noite já fugia quando saiu do bar, acompanhada. Algo a fez olhar para o céu. Talvez fosse a necessidade de ver o que viu. A necessidade de ter algo a que se agarrar... mesmo que seja uma crença esmaecida, um pedaço de esperança tão verde quanto uma folha seca. Olhou para cima e viu aquele minúsculo astro correr pelo céu. Tão rápido quanto um roçar de pálpebras.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Jason Mraz - Bella Luna

O Luar.

"[...]Esse luar mais branco que o rosto de um morto, tão distante e silencioso, esse luar assistiu aos gritos dos primeiros monstros sobre a Terra, velou as águas apaziguadas dos dilúvios e das enchentes, iluminou séculos de noites e apagou-se em seculares madrugadas... Pense, meu amigo, esse luar será o mesmo espectro tranquilo quando não mais existirem as marcas dos netos dos seus bisnetos. Humilhe-se diante dele. Você apareceu um instante e ele é sempre."



Clarice Lispector
 em Mais dois Bêbedos - A Bela e a Fera

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio."
  Clarice Lispector

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

By Tim Burton
"Não que eu seja frio, só estou um pouco mais duro e menos preocupado em entretecer ternuras."
Caio F. Abreu

- Você. Por onde esteve?
- Por aí, perdendo essência.
- E agora? É hora de retê-la? Reter essências?
- O agora está mais pra reticências.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pra onde foi todo aquele riso?

Passo, penso, tento, tateio.
Vou vagando entre as entrelinhas do momento.

As mãos dela eram menores que minha. Fiquei espantada com a sua falsa fragilidade.
Estava me perguntando onde eu estava, porque aquilo era um sonho. Mas eu não lembrava de ter voltado para casa.
Era um sonho sim, insistia com ela. Ela me perguntou o por quê. Era óbvio: estávamos juntas.
Nem lembro mais quanto tempo faz que não vejo. Mas tento, toda vez que tomo rum.
Ela viajou pra São Paulo há muito tempo atrás... mas aquela guitarra tocando sempre me lembrava ela.
De onde vinha aquela guitarra. Tocava no sonho ou fora dele?
O som da guitarra ficava mais nítido enquanto o rosto dela parecia ficar embaçado. Estava acordando. Merda.
A música era fora do sonho, afinal. Ele me abraçava enquanto eu sentia os primeiros raios de sol tocando minhas costas.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Partida.

Tanta coisa, tanta coisa.
E tão pouco tempo pra se perder.

Ontem dormi pensando no porre não tivemos juntos. É, sei bem que já tivemos vários porres juntos, mas pensei logo naquele que não existiu. No rock que a gente não ouviu e no riso que a gente não deu.
Tentei pensar nos nossos beijos, mas só me veio à cabeça aquele que não aconteceu. Fiquei pensando por horas no que a gente não viveu.
Não tenho dormido muito bem e já não consigo parar de tomar meu café amargo. Pra acordar? Pra não sonhar? Sei lá. Só sei que aquele porre que não tivemos me assombrou a noite toda.
Lembro de como eu fiquei estagnada na rua enquanto você me esperava no bar. Não tinha lua naquela noite. Era tanta coisa e tanta coisa se perdeu.
Não fui pra casa, só fiquei lá, na rua. Tinha uma árvore perto, de folhas secas, que farfalhava à qualquer sinal de vento. O som era bom, me fez lembrar a cachoeira perto da qual dormi uma noite. Estava quente, excessivamente quente. A luz do poste era amarela demais e ficava falhando. Acendia e apagava, até que esqueceu-se de acender de novo. Então eu vi quantas estrelas tinha no céu.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sons.

Por um tempo, dois sons me encantavam à noite: O farfalhar das folhas e o seu arfar.
Daí você foi embora e o vento parou de soprar. O silêncio parecia grande demais para a cama vazia. Mudei então para um apartamento no centro da cidade. Não era grande, o que fazia minhas noites parecerem menos vazias. Vivia cheio de gente, mas isso só enchia o apartamento. O peito eu tentava encher com vodka. Adiantava as vezes, à noite, só à noite. Era muito barulhento, o tempo todo. Era bom, eu não escutava o silêncio, nem me encolhia para não doer.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cheiros e gostos.

Era quase manhã e eu cheirava a vodka quando entrei no apartamento, sozinho.
Eu me joguei na cama, do jeito que estava, pensando apagar rápido. Mas me veio o cheiro do perfume dela, impregnado nos lençóis da noite passada.
Um nó amarrou minha garganta com assustadora violência. As coisas mudaram de rumo de maneira extremamente brusca. Me deixou meio tonto ver ela saindo do quarto, em cima do salto vermelho como se nada tivesse acontecido. Como se as peças de vidro e cristal do meu apartamento não estivessem estilhaças sob o seu salto. Outras coisas foram estilhaçadas, mas não era visível para qualquer um outro além de mim. Ela era um furação. Um furacão irresistível demais para a minha quietude.
Fui dormir com o gosto tão amargo de choro engolido. Acordei de olhos ardendo e inchados, abraçando aquele lençol.

"E seria cruel demais para mim lembrar agora que cheiro era esse, aquele, bem na curva onde o pescoço se transforma em ombro, um lugar onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao cheiro de outra pessoa"


- Caio F. Abreu em “Os Dragões não Conhecem o paraíso”.

domingo, 5 de setembro de 2010

Never say it.


O cinzeiro estava cheio de pontas de cigarro, a maioria delas manchadas de vermelho.
Eu só olhava, ali do lado, sentindo o perfume dela. O perfume parecia único, nunca senti mais ninguém com aquele cheiro, felizmente. Seria difícil resistir à qualquer tipo de lembrança.
Ela falava ininterruptamente sobre algo que acontecera em sua ultima viagem. Adorava ouvir sua voz.
Ela se calou para tragar o cigarro e me sorriu com os olhos. O tipo de sorriso que me fazia acordar com ressaca na manha seguinte.
Abaixei a cabeça e pedi um drink para calar a minha sede de dizer que a amava.

Sentimental (Cartas II)

"Não me arrependo de nada. Mas vezenquando passa pela cabeça um 'ah, podia ter sido diferente.'"
Caio F.

Houve um longo hiato até que voltássemos a nos falar. Um hiato ainda maior para falarmos das coisas que aconteceram entre nós. Sutil. Não com culpa, nem com magoa e essas coisas. Com riso até.
Taí uma coisa que vou levar pra sempre: nós e nosso riso.
Não há muito o que ser escrito disso, aqui, nesta carta. O que houve é passado irremediável. Houve espera, culpa e tudo mais, de ambas as partes. Algumas coisas vieram só de mim, outras só de você. Sei que no passado fui meio imatura, mas era isso o que eu era.
Mas isso não importa mais.
Segui outro caminho, você também. Caminhos com mais coração, talvez. Mas disso nunca saberemos. Dançamos com outro par. A minha valsa acabou, mas espero que a sua continue te embalando pra felicidade.
Conversamos, com cervejas nas mãos e riso nos lábios, sobre nós e a nossa canalhice.  Foi bom. Tem sido bom te ver, te falar, estar perto e só.
Você vomitou essas palavras que precisava, sem segundas versões e isso é uma coisa que gosto tanto em você.
Acordei pensando em nós e me dei conta que nunca menti pra você. Isso me fez rir.
Não me arrependo de nada que tenha acontecido entre nós e de nada que nos tenha trazido ao que somos hoje. Mesmo havendo coisas ruins e hiatos.
Não sou só um furação que as vezes passa e vai embora só causando estardalhaço. Nem essa imagem que você disse que desenhou de mim. Posso ficar também. Ser um vento forte, mas constante.
De qualquer maneira, essa música que não ouvimos há tanto tempo pode tocar agora.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Início.


"Você tem fogo?" perguntou, sem ter sequer um cigarro consigo.
E ela, que nunca fumara na vida, respondeu que tinha.
 

quarta-feira, 1 de setembro de 2010


São equilibristas.
E cada passo é uma história
de perdas ou ganhos.
Cada passo é um medo.
Cada passo é coragem.
E a cada passo,
o peso de todos os outros,
percorridos ou não.
Um passo, um pássaro, um passado
 nas vias tortas do coração.

Bicho de sete cabeças. (Cartas I)

Não estou querendo me isentar da culpa, nem diminuí-la. Mas nada muda o fato de que você fez disso, um bicho-de-sete-cabeças.
Ainda não busco justificativas para meus erros não e mal pensados.
Você tinha a escolha de não me escolher, de não me ter. Mas não foi isso o que escolheu, certo?
Sei que fiz do meu erro, um erro seu, mas não foi de propósito. Uma hora a gente colhe o que plantou.
Nunca foi minha intenção causar-lhe qualquer tipo de dor ou arrependimento.
Não venha me dizer "aguente as consequencias" como se eu estivesse procurando uma maneira de fugir delas. Eu não: aceito-as de peito firme.
Eu só quero fazer você enxergar que o que eu fiz, não foi de caso pensado, não foi esse bicho-de-sete-cabeça, o qual você alimenta constantemente.
Sabemos que não sou certa nessa história, mas também sabemos que nenhum de nós podemos julgar os erros dos outros. Não que você tenha errado comigo, é claro. Não, não comigo.
Seu erro foi me seguir, eu disse que não era seguro. E quando a Lua me chama as coisa se tornam mais imprevisíveis.
Talvez eu tenha dado pistas demais, no lugar de falar claramente. Talvez eu tenha falado demais... ou de menos. Talvez eu tenha bebido demais e gastado demais o meu batom.
Eu já tenho um bom caminho percorrido, "tenho tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora" e isso me torna cansada o suficiente para ir atrás de você ou de uma maneira de reparar meus erros.
Cansada o suficiente para tentar mudar a minha incapacidade de ficar com alguém, por inteira.
Cansada demais pra acreditar em palavras doces.
Sei discernir o certo do errado, mas eu não sou muito de me arrepender das coisas que faço, ainda que seja a coisa errada.
Mas não há muito o que falar sobre certas coisas.
Melhor é beber um café forte.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Lenine.

"Falível, transitório, transitivo;
Efêmero, fugaz e passageiro
Eis aqui um vivo, eis aqui um vivo!
Impuro, imperfeito, impermanente;
Incerto, incompleto, inconstante;
Instável, variável, defectivo
Eis aqui um vivo, eis aqui...
Não satisfeito nunca, não contente;
Não acabado, não definitivo
Eis aqui um vivo, eis-me aqui."

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Qualquer tipo de felicidade se baseia em cigarros e litros de vodka. Sempre mentira. Sempre com culpa."
Ariane Carreira

domingo, 29 de agosto de 2010

Nem só de farsa vive o poeta. Mas vive delas tambem.

"Se falta amor, eu tenho muito."
Ela dizia enquanto fumava seu cigarro desdenhosamente.

Antiguidades fora do contexto.

(...)Eu mudei, mas mudei de mais. Acho que no meio do caminho perdi coisas importantes. Perdi meu silêncio tambem. Não consigo achar meu "eu" e mergulhar nele como tanto fazia antes. Costumava sofrer menos.
Penso de mais. Penso de menos. Estou e não estou. Sou e não sou.
 
Agora quero gritar para alem do mundo o que sinto e não sinto. Quero gritar pra ser livre. Quero gritar, mas gritar no meu silencio.
Não é um grito comum. É uma grito vibrante. É um grito não grito. É um suspiro de alivio.(...)

sábado, 28 de agosto de 2010

Paixão.

Ele parecia viver num mundo paralelo, só dele.
Atrás de todo o metal, perdia-se enquanto batia suas baquetas.
Os olhos doces atrás de todo o movimento agressivo formavam um paradoxo absolutamente irresistível a ela. Tinha um sorriso abismoso nas redondezas, mas foi ignorado por causa da força de atração daquele olhar tão doce.
Ela não desviou o olhar um momento sequer, mas ele não a viu.
Quando viu desajeitou-se, perdeu o fio da meada ao trocar de baquetas. O erro foi sutil, ninguém viu. Mas ele sabia e ela também.
Não sabia o por quê de toda aquela força de atração, mas ao vê-lo ali, num sorriso de verdade, com aqueles olhos distantes e incrivelmente doces, ela percebeu que tinha amor pra dar. A vontade de abraça-lo era imensa.
Ao deixar as baquetas de lado, sorriu pra ela. Era um convite.
Ela riu e ele desviou os olhos para alguém que o chamava.
Ao virar, ele viu o vento soprando no lenço que ela tinha no cabelo.
Estava indo embora.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"Ah, diz quantos desastres tem na minha mão"

Nós dois sabíamos que, por mais que fingíssemos, não ia acabar bem.
Penso em nossa tentativa malfadada enquanto vagueio pelas ruas escuras. Imagino você fumando aquele cigarro terrível enquanto toma o café que fiz pra você. Sempre faltava açúcar.

Veja só, sou a mesma de antes, nenhum fio solto.
 A mesma individualista que só quer se aproveitar de você. E você sabia disso desde o começo. Mas fingir é melhor, eu concordo. A verdade é crua e feia demais, por isso mentimos, até pra nós mesmos.

Nas mãos, uma garrafa e mais um desastre.

"Oh it's hard to resist on a night like this."

O apartamento estava em completa desordem por causa da noite anterior. Copos, garrafas e pontas de cigarro se espalhavam por todos os lados.
Sentia sua cabeça em igual desordem. E em igual estado de solidão.
A casa estava vazia, de janelas fechadas. Mandara todo mundo embora pela manha, mesmo aqueles que, de muita má vontade, se ofereceram para ajudar a arrumar. Já anoitecia e a unica luz acesa era a da cozinha.
Não lembrava muito da noite anterior, mas um maldito olhar ecova como som na mente agitada.
Não tinha a menor vontade de arrumar as coisas, não ainda. Sabia que o desanimo se estendia à bagunça mental.
Ouvia o celular vibrar sobre a comoda do quarto.
Não importa... não agora.
Permaneceu num estado letargico durante os minutos seguintes até ouvir a campainha.
Pelo olho mágico viu um belo rosto marcado pela preocupação. Encostou a testa no porta, como nos filmes, e respirou fundo. A campainha volta a tocar, ecoando na cabeça dolorida.
Recuou, abriu um vinho, colocou numa taça e bem baixinho, colocou Devotchka pra tocar. Apagou a luz da cozinha e abandonou-se no chão.
A cabeça latejava. Encostou a taça de vinho na testa e sentiu o contraste contra a sua pele quente demais.
Droga.
Correu e abriu a porta.
Ela ainda estava lá. Fumando seu cigarro favorito, com o batom vermelho de sempre.

'And you already know. Yeah, you already know how this will end.'

domingo, 22 de agosto de 2010

Demon's eye

Tocava Deep Purple em algum lugar. Acho que era na minha cabeça explodida.
Tocava Deep Purple e eu só danço solos de guitarra. E a dança me embala, meu bem. A dança e o alcool me embalam noite afora. Noite afora e desastre adentro.

sábado, 21 de agosto de 2010

Criminal

Era um garoto. Mas não era só um garoto.
Não era meu, nem dele mesmo.
Mas o problema, meu querido, é que eu já quase não ouço meu coração batendo já faz muito tempo. E pior é que eu nem sei se quero ouvir ele novamente.

Ressaca moral. Sempre tem dessas que parecem nunca passar.
Mas sim, eu respondo pelos meus atos, só não espere que eu os justifique.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010


Parecia se exibir para a solidão. O ar cansado, como se estivesse entediada de tudo, mas de olhar selvagem.
Sentei-me ao seu lado e ela me passou o cigarro que fumava como se fossemos conhecidas de tempos.
Aceitei.
O cigarro estava manchado de batom vermelho.
Traguei demoradamente o cigarro voluptuoso, desejando o batom de seus lábios. Ela olhou e de faísca fez-se explosão.
Estava muito quente e barulhento dentro da casa.
Ela segurou minha mão com firmeza e me levou para a noite fria.
Não havia Lua aquele dia e as luzes de fora estavam apagadas. Nada podia ser visto e eu, cega, aceitei a textura de seu batom nos lábios.
Não havia palavras, só o toque suave e voraz de nossas peles na noite escura.
Não havia ninguém para ver o contraste dos cabelos vermelhos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


"(...) Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou se passo."

Cecília Meireles

quinta-feira, 29 de julho de 2010


"I've been a bad, bad girl (...)

Heaven help me for the way I am,
Save me from these evil deeds before I get them done
I know tomorrow brings the consequence at hand
But I keep living this day like the next will never come."

So, please, please, get gone.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Senhas.

"Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem"

O que se (in)espera.


Vem.
Vem que a gente se afoga em desejos.
Vem que eu te quero,
vem que não te quero, mas morro de vontade.
Vem,
que não sou tua nem minha
Não sou lua nem sol, noite nem dia, rua nem estrada nem calçada.
Vem que sou por-do-sol,
sou fenda em olho de gato,
sou vendaval em noite serena, sussurro em noite escura.
Sou abismo,
uma dose de absinto.
Sou um arrepio,
um arranhão.
Sou o que tua vontade quer.
Então vem, que a gente se afoga em afagos
Em vontade, em fome.
Vem.

domingo, 18 de julho de 2010


"Sou uma filha da natureza: quero pegar, sentir, tocar, ser. E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério. Sou uma só... Sou um ser. E deixo que você seja. Isso lhe assusta? Creio que sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. Dói só no começo."
Clarice Lispector.

Undeclose Desires.

Ela, highways e Creedence bem alto nos fones.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

domingo, 20 de junho de 2010

O ar foi ficando denso, tão denso...

...que em poucos momentos a neblina era densa o bastante para tornar tudo absurdamente sufocante.
O ar pesado acabou por encharcar as velas, que pendiam murchas no mastro, sem nada que as inflasse.

Mas dessa vez não havia beleza velada.
Não havia nada, alem daquela sufocante cortina envolvente.
Não se sabia se estava claro ou escuro.

A tripulação era constituída de um homem só, que agora lutava contra o ar pesado. Os pulmões lhe doíam, no anseio insano de aspirar ar.
A sensação era de que eles se enchiam de água.
Um água escura e viscosa.

Não havia calmaria.
O mar, aos poucos, exausto da quietude, agitou-se.
E o barquinho era judiado.
O mar o jogava de lá pra cá, esforçando-se para derruba-lo.
Mas não havia vento.
A revolta vinha do âmago do mar, agora arredio.
Era como se fervesse, e de repente entrasse em ebulição.

Barco e tripulação, dessa vez, morreriam juntos.
Sufocados, afogados.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A saudade segue no encalço.

Hoje o vento tirou uma folha pra dançar.
Ela ficou ali, borboleteando para mim, na sua amarelice
de quem já viveu o bastante pra contar história.
E foi caindo e dançando e caindo.

Mas uma hora vem o chão e acaba com tudo.
Só fica a beleza jazida no chão, em meio à poeira, pra ser pisoteada depois.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Nem poesia.

E por um momento tudo ficou estático.
É que por um momento,
muito breve, espero eu,
 me escapou a coragem soprando as velas encardidas do barco.
Me escapou como o fôlego escapa quando o choque é grande demais.
Me escapou como o silvo da queda de algo especialmente pesado, quebrável e ajustado em um lugar alto demais.
Na queda faltou o fôlego, mas o choque era barulhento, estilhaçante.
Era quase um grito.


Tudo ficou estático
e o barquinho ficou a deriva,
sujeito somente às intemperidades do mar.
E o mar estava tão calmo, tão plácido.
Era só uma superfície fria e azul
Não havia ondas.
O barco não vagueou
e eu não ouvi a música do mar.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Dói mais quando não tem "Adeus".

Não, eu não quero que depois de todo esse tempo, você me ligue com a voz cansada "só pra dizer que me ama".
Não venha com essa agora, logo agora que o tempo está tornando opacas minhas lembranças de você, de nós.
E não diga que "a distância vai só aumentando", como quem acusa. Me acusa. Afinal, não fui eu quem quis ir embora e fui. Não fui eu quem deixei sementes para trás e nem me importei em como cresceriam. Cresceriam muito bem, como cresceram. Afinal, mãe Gaia não precisa de ninguém para transformar suas sementes em primaveras eternas.

Eu não quero os restos. Não quero pedaços. E há muito deixei de me preocupar com as migalhas que você foi deixando cair por aí. 

Eu não. Eu queria sentir a sensação que tinha antes, quando pequenininha você segurava minha mão e saía por aí comigo.
Eu queria mesmo era que você pegasse a minha mão, como fazia antes, e dissesse, exatamente do mesmo jeito que dizia, "Papai te ama muito, filhote".

Mas não há mais minhas mãos pequenas sumindo nas sua mãos de gigante. Não há mais o contador de histórias e a ouvinte sempre atenta e faminta por mais. Não há mais o explorador e sua seguidora. Não há mais o astrônomo e sua aprendiz.
Não, não há.
Não há mais nada.
Nada. Isso te assusta? Acho que não. Por que haveria se te assustar? Fazem quantos anos mesmo?

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mergulhado no nevoeiro,
o barquinho segue embriagado ao mar.
Tão só,
mas com tanta coragem inflando as velas encardidas!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

[Contra]Tempo.

“Não sei se quero descansar, por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir”

A lua vai crescendo
e  no compasso, cresce meus anseios.

Mas eu não sei explicar direito.
Enquanto dançava de repente dei por mim: parece que estou vivendo num constante contratempo. Espremida num espaço entre a primeira contagem e a finalização de uma passo. Vivendo num constante "e". O espaço entre os espaços. O tempo que não se conta, mas se pensa, só para dar tempo de alguma coisa.
Dar tempo de que?
Estou cansada e me perdi na poesia.
Me prendi entre os versos de um poema antigo sobre saudade.
Suspiro de um acordeon.

Eu estava cansada.
Eu continuei tirando musica com meus pés.
Continuei invocando Gaia com meu sapateado.
Sozinha.
Continuei...
Continuo.

Me perdi nas minhas palavras, nas minhas falas.
Nas minhas mentiras mal contadas.

Há tempos, eu sei, que o que sinto é falta, é fome, é saudade.
Saudade do que se foi e do que permaneceu em mim.
Saudade até do que não vivi.


"Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão."


Ao som de: 'Undone' - DeVotchka

domingo, 2 de maio de 2010

Só poeira.

"Eu tive um amor,
mas foi a dor que me ensinou a ser quem sou"


Eu me apaixonei primeiro pelo seu sorriso.
O cara de traços fortes e misteriosos com o sorriso mais deslumbrante do mundo.
Você sorria e ligava o sol da minha vida. Tudo ia embora. Era a melhor sensação do mundo.
Não havia mais tristeza, nem medo, nem pesar. Não havia angustias e nem mesmo o peso acumulado dos dias que se passaram. Só havia você, eu, nós. Só havia o calor e a luminosidade do seu sorriso.

É engraçado lembrar disso agora. Não, não o lembro com pesar, mas é só essa maldita nostalgia que veio me assombra na noite de hoje.
É engraçado lembrar, porque foi isso que me levou à ruína. 
É que ver um sorriso dá vontade de me jogar num abismo. E foi isso que eu fiz. Joguei-me e senti a plenitude da queda livre. Toda a dor se transverteu em asas, num vôo deslumbrante. Deslumbrante sorriso.
Mas com o tempo você foi sorrindo menos e seu sorriso foi se transformando  de sol a buraco negro. Buraco negro, porque eu nunca deixei de me perder no seu sorriso, mas ele foi ficando mais sombrio, menos sincero. Foi sugando minha alegria de vê-lo, aos poucos.
E é foi aí que na queda me veio o chão. Duro, impiedoso. Espatifei-me e de mim sobraram só cacos. 

"Shards of me too sharp to put back together
Too small to matter, but big enough to cut me in to
So many little pieces, if I try to touch them."


Mas depois disso eu posso até agradecer. 
Eu que achei que não viveria, que as feridas jamais se fechariam. 
Na verdade elas não se fecham direito. Ainda latejam, mas como um aviso. E a cicatrizes são eternas, às vezes eu sinto uma coceira irritante nelas, mas trato logo de ignorar. Elas são a lembrança de que eu estou viva e de que, um dia, tive um coração pulsante.
Eu, que sempre andei de peito aberto, agora visto minha armadura e, de escudo bem posicionado, caminho em meio aos destroços.
Eu, que sempre me ajeitei bem com as palavras, agora me perco nelas, no desespero de me desafogar. Mas agora eu sei, mais que nunca, que palavras não valem nada. Na maioria das vezes, são só instrumentos da mentira.
É inacreditável como elas se tornam essenciais para o amor. É inacreditável o quanto ficamos estúpidos diante delas quando se ama. É simplesmente tão fácil acreditar em qualquer palavra que se ouve, quando se ama. Não se desconfia delas. Simplesmente acredita-se. É como beber água da fonte, quando se está caminhando sedento por terras áridas.

"They’re just words, they ain’t worth nothing"

Sorriso. A arma mais linda e mais letal do mundo.

O problema dos sorrisos é exatamente esse. São irresistíveis. 
Mesmo sabendo do abismo que são. Mesmo sabendo da dor que eles podem trazer quando enganadores.
São irresistíveis e diante deles nos tornamos Pandora diante de "sua" caixa.

domingo, 11 de abril de 2010

(In)fertilidade.

Mas um dia, a gente sabe, o sertão há de virar mar.
Nós sabemos, ou esperamos.
Mais esperamos que sabemos.
Pois a terra em que hoje tudo jaz morto e encolhido, em cinzas, há de ser fértil mais uma vez.
Mas não. Não importa esperar isso, saber disso, enquanto nesta terra nenhum flor desabrocha e nenhum fruto nasce.
Afinal, em terra sertaneja não há fruto que amadureça suculento. E flores precisam de mais do que um mar, vasto mar, inóspito, para desabrocharem.

O sol esquenta, a terra queima.
O pó, a poeira, 
O mar avermelhado, sem cais. 
O caos.

Mas mesmo assim a gente espera.... 
E vai caminhando na aridez do sertão, 
esperando que o mar encontre a gente antes 
 de alcançarmos o litoral.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Almática

"Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

Clarice Lispector

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ja não está aqui quem falou.


Fitava o vão da porta aberta.

A presença dele naquele portal, diante de si, a tão pouco tempo, só fez aumentar o vazio daquela visão. Ainda mais.

Paralizára-se pelo medo das palavras.
Estacara-se diante da porta vazia e aberta e olhava para o infinito que jazia ali, inalcansável.

Estava particularmente frio aquele dia. Sentia-o em seus osso. O frio.
A lua despencava de uma altura absurda e vinha acariciar tão delicadamente a pele branca daquela pequena criatura.
O vento entrava pela porta aberta, vazia, e brincava com seus cachos avermelhados.
Abraçava-se enquanto, com uma disciplina militar, segurava as lágrimas que, furiosas, tentavam derrubar a barreira. O nó na garganta doía-lhe imensamente, mas não ousaria deixar rolar uma lágrima sequer. Pois se uma unica lágrima corresse, jamais teria força o suficiente para impedir que seu rosto fosse inundado. E uma vez derramadas, não cessariam nunca. O coração continuaria molhado, mesmo de olhos secos.

O luar aos poucos diminuiu e o céu foi tomado de vermelho. A chuva caiu fina, fina.
Ela viu o contraste dos pequenos pingos contra a luz amarelada do poste.
Choveu a noite inteira e ela ficou lá, de porta aberta, vendo e sentindo as lágrimas que o céu derramava em seu lugar.

Parece cocaína, mas é só tristeza

"Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada."


Deixou-se cair na cama, exausta. De respiração lenta e coração latejante.

Dentro dela, um caos. Um turbilhão de coisas que não conseguia colocar pra fora.
Gritavam enfurecidas.

Mas era só o silêncio ecoando na alma.
O silêncio era absurdo, como um trovão. Estrondoso.
Ecoava como o grito num cômodo vazio. Sem janelas... a porta trancada à chave.


Uma luz deslumbrante que rasga o céu negro precede o som alto demais.
Assustador. Encantador.
Intenso demais.