terça-feira, 14 de dezembro de 2010

[Des]medida

Aquela imagem ficou fixada em meus olhos por horas. Todo o resto que se passava no mundo eu olhava, mas não via, via apenas aquela cena. O espanto ficou estampado na cara e a dor me veio como um soco na cara. A lágrima ardida que não deixei cair, o choro apertado que não deixei sair, sufocado na garganta. Ficou ali por muito tempo. Desceu com muito custo, misturado com lágrimas contidas e alguns goles de rum. Passou. Por um momento muito curto, curto demais. Aos poucos o rum foi acabando, meu sangue concentrando e o peso daquela imagem recaindo lentamente sobre meus ombros. E foi pesando, pesando, me empurrando pro chão. A sensação é de que eu fiquei ali esmagada por horas, dias, meses. Os meses que se passaram, os dias, as horas, minutos, segundos. Tudo me doendo por dentro enquanto eu andava por algum lugar que já não fazia mais sentido. Lá estavam eles, naquela esquina, naquela praça, naquela outra rua, atrás de mim, na minha frente, ao meu lado. Lá estavam eles dentro da minha cabeça que já começava a explodir. Lá estava o pedaço do meu passado que até hoje não virou passado de fato. Ali estava este pedaço, dentro de mim, tentando me rasgar. Ah, mas eu só queria gritar, precisava gritar, precisava de um porre. Mas o grito não veio, o álcool não veio. Só a imensa vontade de fugir e me esconder. Mas... pra onde mesmo? Aí veio um momento de fogo e paz, mas tão fugaz... Fui embora me doer sozinha.

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