domingo, 31 de outubro de 2010

Fugindo ao contrário.

Uma, duas, três, muitas. Muitas e muitas doses de tequila. Muitos e muitos goles de vodka. Muitas e muitas vontades.

Estava tonta, absurdamente tonta e olhava para o copo de vodka na minha mão enquanto me constatava deste fato. Já não lembrava mais o quanto tinha bebido, já não me importava as horas ou todos aqueles vultos que falavam tão alto. Alguém esbarrou em mim com demasiada violência e derrubou minha bebida. Praguejei alto, mas minha voz saiu estranha, como de quem estava prestes a chorar. De repente comecei a ter consciência da quantidade de gente que tinha a minha volta, do quão quente e abafado estava. Andei, corri, fugi. Esbarrei nas pessoas, na fuga desesperada, na ânsia da solidão momentânea, do meu encontro comigo mesma.
Alguém me segurou pela mão de modo assustadoramente firme e ao me virar, me vi mergulhada num abraço. Aquele abraço, aquele cheiro. E lá se foi todo o meu desespero, meu plano de fuga, toda minha ânsia de solidão momentânea. Porque era exatamente ali que queria estar. Era ali onde eu deveria estar. Era com ele, nos braços dele. Eu não queria fugir para ficar sozinha, eu queria ir para aqueles braços e respirar fundo.
Acho que não nasci pra ficar sozinha. Eu aprendi a ser sozinha porque precisei e no fim das contas acabei gostando mais que devia. E vou continuar, porque é bom. O que não muda o fato de que me sinto melhor no seu abraço do que quando sozinha.
Eu sei, eu me conheço. A sensação que tenho é que, no seu abraço, as cicatrizes são justamente isso: cicatrizes. Eu preciso de alguém que possa colher meus frutos, minhas flores. Preciso não, quero. Quero sim dividir meu calor com alguém.
E foi ali que minha noite ficou boa de novo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

(des)Encontros.

"If I lay here,
If I just lay here,
Would you lie with me and just forget the world?"

Quando a viu, ela estava sentado no meio fio. Observava os carros. Era noite e o intenso fluxo de carros lhe vinha como uma corrente de luzes amarelas, vermelhas, laranjas, por vezes brancas. Ela podia ficar horas ali, esquecendo-se de si. Parecia tão frágil ali sentada, encolhida, absorta em pensamentos. A vontade de abraça-la era imensa. Abraçá-la, sentir sua pele, seu cheiro, a textura de seus lábios. Como queria poder segurá-la em seus braços e tirá-la dali. Respirou fundo e caminhou...
Algo a fez acordar de seus pensamentos e virar para trás a tempo de vê-lo indo embora.

domingo, 24 de outubro de 2010

Skies on fire

"Tell me what it is you want it to be
What you want to be,
What you need in me,
tell me what it is you want it to be,
In the rain, in the streets,
Tell me what I see, how’s it got to be,


Hey you look in the sky, skies on fire
Look in the sky, flames burn higher,
Skies on fire,
Flames get higher,
Skies on fire,
I know you and you know me,
Tell me what is it you want to be,
Flames burn higher,
Skies on fire"

AC/DC, modificado

sábado, 23 de outubro de 2010


"O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído..."


Make a wish upon a [falling] star

Sim, Clarice. As estrelas estão caindo.
Elas caem, estou vendo isso em seus olhos doces.


Fechou os olhos e fez um pedido. Depois respirou fundo olhando para o copo quase vazio. O cansaço rastejante começava a subir pelo seu corpo excessivamente branco. Levantou-se, pagou a conta e foi embora. Ainda era cedo e a rua lhe animaria. Depois de um tempo de caminhada entrou em um bar excessivamente cheio. Alguma banda tocava um rock antigo que lhe inspirou uma tequila. Duas, três, muitas. Encontrou amigos, falou, riu, dançou, tirou os saltos e subiu a mesa.
Não dormiu aquela noite. Quando o efeito do álcool começou a passar foi ver o sol nascer no ponto alto da cidade. A noite já fugia quando saiu do bar, acompanhada. Algo a fez olhar para o céu. Talvez fosse a necessidade de ver o que viu. A necessidade de ter algo a que se agarrar... mesmo que seja uma crença esmaecida, um pedaço de esperança tão verde quanto uma folha seca. Olhou para cima e viu aquele minúsculo astro correr pelo céu. Tão rápido quanto um roçar de pálpebras.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Jason Mraz - Bella Luna

O Luar.

"[...]Esse luar mais branco que o rosto de um morto, tão distante e silencioso, esse luar assistiu aos gritos dos primeiros monstros sobre a Terra, velou as águas apaziguadas dos dilúvios e das enchentes, iluminou séculos de noites e apagou-se em seculares madrugadas... Pense, meu amigo, esse luar será o mesmo espectro tranquilo quando não mais existirem as marcas dos netos dos seus bisnetos. Humilhe-se diante dele. Você apareceu um instante e ele é sempre."



Clarice Lispector
 em Mais dois Bêbedos - A Bela e a Fera

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio."
  Clarice Lispector

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

By Tim Burton
"Não que eu seja frio, só estou um pouco mais duro e menos preocupado em entretecer ternuras."
Caio F. Abreu

- Você. Por onde esteve?
- Por aí, perdendo essência.
- E agora? É hora de retê-la? Reter essências?
- O agora está mais pra reticências.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pra onde foi todo aquele riso?

Passo, penso, tento, tateio.
Vou vagando entre as entrelinhas do momento.

As mãos dela eram menores que minha. Fiquei espantada com a sua falsa fragilidade.
Estava me perguntando onde eu estava, porque aquilo era um sonho. Mas eu não lembrava de ter voltado para casa.
Era um sonho sim, insistia com ela. Ela me perguntou o por quê. Era óbvio: estávamos juntas.
Nem lembro mais quanto tempo faz que não vejo. Mas tento, toda vez que tomo rum.
Ela viajou pra São Paulo há muito tempo atrás... mas aquela guitarra tocando sempre me lembrava ela.
De onde vinha aquela guitarra. Tocava no sonho ou fora dele?
O som da guitarra ficava mais nítido enquanto o rosto dela parecia ficar embaçado. Estava acordando. Merda.
A música era fora do sonho, afinal. Ele me abraçava enquanto eu sentia os primeiros raios de sol tocando minhas costas.