segunda-feira, 28 de março de 2011

Dois Olhos Negros

I want so bad to easy the pain hidden in your dark eyes.


Uma velha senhora ouvia com total desaprovação o som tão alto que saía dos fones de ouvido daquela menina sentada no final do vagão.

Pantera no volume máximo tocava nos seus ouvidos para não ouvir os pensamentos, para alimentar o fogo da raiva que crescia em seu peito. Queria falar tanta coisa para ele, mas do que adiantaria? Ele continuaria longe, desgastando mais e mais os restos dos laços familiares que ainda restavam. O som enfurecido de guitarras e baterias a dominariam de tal maneira que chegaria em casa com um sorriso nos lábios, como se nada tivesse acontecido. Não entendera até então por que fez a estupidez de atender aquele telefonema. Estava tão longe de casa! Talvez tenha sido por isso... Eu só queria que ele fossem homem e respondesse pelos seus atos. Mas isso era querer de mais dele, e de um monte de outras pessoas.
Seus olhos estavam fechados. Segurava mágoas e palavras.

***

Sentiu o telefone tocando no bolso e pensou em não atender até ver quem era. Era ele, não tava legal, mas sempre de bom humor. Um destino, pensou. Vou praí te ver,  ela disse, como tantas vezes ele havia falado para ela.
Aquele sorriso no rosto e tanta tristeza no olhar! Desesperador. Sentiu dor em sua alma e sem palavras alguma, abraçou-o com tanta força quanto possível, como se quisesse absorvê-lo, ou absorver tudo aquilo que atormentava aqueles olhos negros dele.

quarta-feira, 23 de março de 2011

"Você está bem?"

Eu estava calada havia um bom tempo enquanto fitava o copo em minhas mãos. Estava imóvel, sentada ao lado dele. Não me lembro quando o silêncio tinha começado, mas sei que era do tipo de silêncio confortável, que eu tanto gostava. Ele devia saber que havia algo errado, porque aquela noite eu estava simplesmente cansada demais. Falei pouco, sorri ainda menos, mesmo com o copo sempre cheio em mãos. Mas ele não falou nada por um bom tempo. Ficou ali, me fazendo companhia no meu silêncio. Talvez soubesse que se perguntasse algo, eu fraquejaria a ponto de falar que não estava bem. Assim pensava, pelo menos, porque algum tempo depois veio a pergunta.
"Você está bem?"
Eu sorri nesta hora - o tipo de sorriso que não se estende aos olhos - e suspirei, porque eu sabia o que ele estava fazendo. Queria me dar um alivio, fazer eu colocar para fora aquilo que pesava tanto dentro de mim. Me fazer vomitar um testamento de palavras embargadas em lágrimas, mostrar a cara, o coração em carne viva e o peito ardido. Me abraçar enquanto eu chorava até a camisa dele ficar molhada das minhas lágrimas.
Ou pelo menos era isso o que eu queria que ele fizesse, enquanto não havia nada ali, só dessas perguntas que a gente faz, mas não quer saber a resposta de verdade. Mas quando a lua ta minguando e as coisas começam a ficar pesadas, a gente vai criando coisas na nossa cabeça. Um monte de castelos de areia, que quando a gente abre os olhos só vê a areia lisa da praia, de onde as ondas acabaram de bater.
Eu queria que fosse isso, eu queria um colo. Queria responder "Não, não to bem." E contar o que tem me atormentado, o que tem me feito ter sonhos ruins e acordar com o peito doendo. Contar que meu peito estava doendo pra caralho, que minha cabeça tava cheia e meu coração apertado. Eu queria falar tudo e desafrouxar esse nó da minha garganta.
Mas na hora eu só segui o cliché: "- To sempre bem." Foi essas palavras que saíram da minha boca, enquanto meus olhos diziam tudo isso que eu queria dizer. E o diziam para os olhos negros dele. Aqueles olhos que sempre entenderam os que os meus - igualmente negros - diziam.

segunda-feira, 21 de março de 2011


"E se você quiser e vier
Pro que der e vier comigo
Eu posso ser o seu abrigo
Mas e se você não quiser
Me nego à todo e qualquer castigo.
Mas só quero que saiba, meu bem:
Te levo sempre comigo…"

domingo, 20 de março de 2011



"Joel, I’m not a concept. I want you to just keep that in your head. Too many guys think I’m a concept or I complete them or I’m going to make them alive, but I’m just a fucked-up girl who is looking for my own peace of mind.”
— Clementine (Eternal sunshine of the spotless mind)

sexta-feira, 18 de março de 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

“Cada minuto que passa é uma chance de mudar tudo."

Ela repetia para si, em sua cabeça, sem pausa, como um mantra. E pedia, implorava: “Céus! Dê-me um minuto!” Mas o que lhe faltava era coragem. Coragem de deixar ir embora. Coragem de virar as costas e aceitar cair no precipício da solidão. Coragem para abraçar tal sensação. Estou só. Sim, ela estava só, mas precisava aceitar a dor da colisão com o chão, pois já estava em queda há muito tempo.


Cada minuto que passa é uma chance de mudar tudo.Cada minuto que passa é uma chance de mudar tudo.Cada minuto que passa é uma chance de mudar tudo..." Repetia enquanto olhava para o vão abaixo de seus pés.

sexta-feira, 4 de março de 2011


"...The things that I've loved the things that I've lost
The things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need..."

Indo embora.

"E não é a dor que me entristece
É não ter uma saída nem medida na paixão..."





Eles se abraçaram. Um abraço forte, apaixonado, cheio de cheiros, sabores e dores. Um pequenina lágrima escorreu do olho dela enquanto mergulhava nos braços dele. Enxugou-a antes que ele percebesse e se soltou do abraço. Sorriu um sorriso triste aos olhar nos olhos dele e desviou o olhar para o chão. Ele, que acabara de perceber que havia algo errado, levantou com delicadeza o queixo dela.
No momento em que seus olhos se encontraram, ele sentiu um tiro atingir seu coração. A dor foi tão aguda que perdeu o compasso da respiração. Ela viu a dor nos olhos dele e sentiu mais um rasgo em seu coração. Mas ela tinha que ser forte. Afastou-se e suspirou, disse um “a gente se vê” sem a menor convicção, pois ambos sabiam que era mentira, e foi embora.

Ela estava indo embora. Porque por mais que doesse, por maior que fosse o rasgo em seu coração ela queria sentir-se inteira novamente, por mais que naquele momento ela soubesse que jamais poderia sentir-se inteira sem tê-lo. Mas ela queria tanto se refazer! Queria seguir enfrente. Queria poder olhar para trás e sorrir com as lembranças. Todos aqueles encontros e telefonemas, por mais que esperasse todos eles ansiosamente, a faziam mal, a machucavam e ela estava ciente disso. Ele tinha mudado, já não era mais a pessoa com quem dividira-se por tanto tempo, ele estava seguindo outro caminho, uma caminho diferente daquele que seguiam juntos, enquanto ela continuava no mesmo caminho. E era esse o problema. Percebera que continuava a viver um “nós” que não existia mais. Ela precisava seguir o seu caminho agora, seguir seus sonhos, encontrar qualquer forma de felicidade que não dependesse de outra pessoa, que não dependesse dele. Afinal, ela tentara. Fez o que podia para tê-lo de volta, mas há certas coisa que se pode passar por cima e tanto ela quanto ele sabiam disso. Ela sentia um peso enorme em suas costas ao tomar tal decisão, mas simplesmente não aguentava mais viver aquela meia vida que girava em torno dele. Agora, ela queria chorar, queria correr de volta e abraçá-lo, dizer que o amava, que o amaria para sempre. Queria sentar debaixo de uma árvore e desistir de lutar com o mundo para achar seu lugar. Queria que ele a aconchegasse em um abraço apertado, seu abraço confessionário, abraço abrigo, e chorar até que parasse de doer. Queria muitas coisas que sabia que não podia. Não podia, porque sacrifícios são necessários para se vencer a guerra e ela iria atrás de seus sonhos. Agora ela caminhava de coração latejante e um enorme nó na garganta, mas seguia o seu caminho. Por mais que doesse, ela estava indo embora.