domingo, 11 de setembro de 2011

Nau à deriva


"...à deriva 
longe demais
do cais do porto
perto do caos (...)

Meu coração é um porto sem endereço certo
é um deserto em pleno mar."

- Engenheiros do Hawaii

"É alta madrugada, já é tarde demais"


Lavou a alma. Disse tudo o que tinha para dizer e mais. Acordou com uma gigantesca sensação de leveza que aumentava toda vez que pensava no dia anterior. Finalmente tinha transformado aquelas reticências em ponto final. Está feito, pensou com um sorriso nos lábios.

sábado, 10 de setembro de 2011

Oi. Provavelmente não nos conhecemos, mas você é o próximo cara que vai aparecer na minha vida e antes de tudo, de tudo mesmo, eu preciso te dizer uma coisa: Não vai dar certo.

Você vai aparecer na minha vida quando eu finalmente estiver gostando mais de ficar sozinha. Sutil ou arrebatador, por algum motivo eu vou permitir que exista um amanha com você. Eu sou uma pessoa emocionalmente danificada e apesar de te querer por perto vou manter sempre uma distancia de você. Deixarei claro: não abrirei mão da minha liberdade. Não. Não quero e nem estou pronta para fazer isso de novo tão cedo. Sou gado criado solto. Mas não se preocupe, a sua liberdade também não será ferida. Talvez depois de um tempo eu pense nisso e passe a me importar, mas no fim não me interessará onde você esteja ou com quem você esteja, contando que somente eu seja o seu amanha também. "Teremos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz", mas ignoraremos isso. Seremos "o que da para fazer, o que não dá para evitar e não se pode esconder." Talvez eu saiba, bem la no fundo, que é em mim que você pensará antes de dormir, que é só para mim que você terá vontade de compartilhar certas coisas, importantes ou não. Talvez eu sinta que você me quer por perto, que quer ouvir da minha risada e quer que eu acorde do seu lado depois de uma boa transa. Isso tudo vai acontecer comigo também e quando eu perceber que estou mais envolvida do que deveria, eu vou me desesperar. Mas vou fingir, para você e para mim, que nada mudou, e você vai me mostrar de todos os jeitos que não se importa comigo e isso vai me machucar. E aí eu vou dar um jeito de realmente foder com tudo, conosco. E só quando você não estiver mais ao meu lado, por culpa minha, é que eu vou perceber o quanto eu me importava e o quanto eu queria você entrasse na minha vida.
Apesar de saber que não vai certo, eu ainda espero. Espero por você e pelo que nós poderemos ser. Eu realmente espero que você arrombe essa porta que mantenho tão brutalmente fechada, por medo, por razão, e invada minha vida, minha cabeça e meu coração. E realmente espero que você, meu futuro caso torto, nunca me apareça pela metade, que "quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade". Ultimamente eu tive muitas metades e isso foi me deixando cada vez mais danificada, porque eu odeio metades.
Como eu disse, sou emocionalmente danificada, não sei mais fazer com que as coisas dêem certo. Não sei lidar com palavras e cada vez que tento melhorar alguma coisa em relação a sentimentos sempre vou embora com frustração de ter piorado ainda mais as coisas.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Ainda é cedo




"...Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém
E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo.

Sei que ela terminou
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei
Ela falou: - Você tem medo.
Aí eu disse: - Quem tem medo é você.
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém
Ela me disse: - Eu não sei mais o que eu
sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.

E eu dizia:
 - Ainda é cedo
cedo, cedo, 
cedo, 
cedo..."


- Legião Urbana.

Rodo cotidiano.

- Eu tinha tantas ideias na cabeça, tantas palavras na garganta! Estava quase pronta para dar à luz e vê-las no papel, mas elas foram lavadas pela enxurrada do cansaço, amor. E isso é tão triste!

Ela me disse, com os olhos molhados, mas não chorava. Não por fora. Era por dentro que doía mais. E era para dentro que ela tentava colocar toda aquela fumaça que tragava tão lentamente. O lápis, que ela uma vez me dera, jazia pesado no meu bolso.

Fuel

Eis que aqueles enormes e pesados cachos flamejantes invadiram seu sono novamente.

Ela fumava, como sempre. Eu olhava fixamente para a sua boca. Seus volumosos lábios deliciosamente pintados de vermelho. A cor do desejo, pensei com um meio sorriso no rosto. E como era grande o meu desejo por aqueles lábios vermelhos que manchavam com displicência o cigarro branco.
Ela colocou o cigarro entre os dedos e deu uma tragada longa, como se suspirasse, enquanto olhava fixamente para mim com os olhos de gata. Um gato arisco. Acompanhei o movimento da mão enquanto ela baixava o cigarro. A pele levemente amorenada e as unhas cuidadosamente pintadas de vermelho escuro. Segui as curvas de seu corpo até o encontro de olhares. Ela sorria e nesse sorriso eu me afundava. Queria sentir seu gosto novamente, provar mais uma vez a textura dos lábios veludosos. Queria tirar-lhe todo o batom com a minha boca. Despir todo aquele vermelho e sentir o mundo desabar sobre nossas cabeças.
Ela se fazia distante, indiferente, mas no fundo ela sabia que me queria tanto quanto eu a queria. E no final da noite, o calor dos corpos embalados por um solo de guitarra transformavam todo o resto em resto.