domingo, 26 de junho de 2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Amaciar dureza.



"E viveu uma semana,
era Ana, eram anos
quanta vida enclausurada nesse mundo tempo
era a cor dos seus cabelos,
tantos erros, tantos zelos
vida a passar os momentos deglutindo ventos


jornadas viu sob o luar
sonho de lua, vida de lua
por onde passou, sentiu o seu destino
despedaçado
atado, vidrado, trincado, cortado
seus vícios, seus mortos, seus caminhos tortos
na vida, amaciar dureza
na vida amaciar..."

- Graveola e o lixo Polifônico

Revira-ventos.


A flor, cansada, se jogou do topo da árvore. Ela ansiava pelo encontro fatal com o chão frio e sujo.
Mas em sua queda e vento lhe soprou e ela borboleteou até um suave pouso no chão.
O vento tirou-a para dançar e a salvara. A sensação da queda lhe foi tão incrível que esqueceu-se de seu propósito.
Foi pisoteada,
logo depois. 

Mas ela tinha conhecido a sensação da queda,
 ela voara, 
dançara com o vento. 
E tudo aquilo 
já lhe valera pela sua breve vida.


domingo, 19 de junho de 2011

L'amour ça ne va pas


   Ela não esperava nada daquela noite, mas se viu num abraço forte com ele. Não se conheciam, mas eram namorados de uma noite só. Caminhavam lento naquele jardim mal iluminado. Ele lhe deu uma flor. Ela lhe deu um beijo. A respiração dele no seu ouvido enquanto a mão dele tocava sutilmente seu cabelo. A assustadora sintonia. Olhos, boca e mãos, unidos só por uma noite. E cada parte dos corpos reconheciam o outro como se amassem. Ele era a salvação dela, e ela, a salvação dele. Mas só por uma noite. E ao fundo uma musica tocava...
L'amour, j'en veux pas
J'préfère de temps en temps
J'préfère le goût du vent
Le goût étrange et doux de la peau de mes amants
Mas l'amour, pas vraimente

terça-feira, 14 de junho de 2011

Canção de ninar


Certas coisas ficam gravadas na memoria, sem você perceber, um cheiro, uma sensação... ou ate mesmo aquela velha canção de ninar...

Estrelinha que reluz
A primeira que hoje vejo
Com seu brilho e sua luz
Realize meu desejo

E depois do seu pedido
Não descanse para esperar
Para que seu desejo se realize
Você tem que trabalhar

segunda-feira, 13 de junho de 2011

domingo, 12 de junho de 2011

Num livro ela leu:
“Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha.” (Caio F.)
Lembrou de uma pessoa e sorriu por isso. Caminhando, agora, finalmente estavam caminhando - e suspirou, quase com alívio.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

- Me dá um cigarro?

E ela lhe entregou um lápis.

(qualquer forma de vício, 
de válvula de escape.
Doía-lhe. Doíam.
"O que?"
"..."
O vazio sussurrava.)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ana e eu.


"Andei pra chegar tão longe
Daqui de longe eu olhei pra tras
E foi como ver distante
Eu atravessando os meus temporais

Sonhei muito diferente
Eu bati de frente, corri atrás
E foi como se eu soubesse
Inverter o tempo e arriscar bem mais
Eu vi que era o meu destino
Eu me vi menino
Em outros que fiz, andei pra chegar mais longe
E de lá de longe me ver feliz
Andei pra valer a pena
Olhei pra trás pro que é meu
Nosso passado me acena pelo que foi já valeu."

- Lenine.
(para a mesma Ana, de Caio F.)
 

"..."


Eu li de Clarice Lispector "Perder-se tambem é caminho". As placas diziam: "perca-se, perca-se no caminho". E por muito tempo eu procurei me perder. E me perdi.
Me perdi e vaguei pelas ruas. Me perdi porque foi o que me tirou da dor. Por muito tempo eu quis não me importar e quando importava, me perdia, para esquecer. Me espalhei, não pensei, me abandonei.
Mas agora eu vejo, preciso me encontrar. Reter essencias para acabar com as reticências que fui largando por aí. E me encontro e penso e sonho. "Quero ser diferente, se não for, me farei.", escreveu Caio. É de fato, me farei. Vem aquele estranhamento no qual eu mergulho nos "quem sou eu" e "quem eu era". Mas vai tudo se encaixando. Vou me encontrando por aí. É tempo de encontrar, de pensar. De voltar a pensar
Com a fé inabalável, eu parti de encontro a mim.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Todos os caminhos.



"Por tudo que eu andei e o tanto que faltar,
 não dá pra se prever nem o futuro

O escuro que se vê quem sabe pode iluminar os corações perdidos sobre o muro 
E o certo é que eu não sei o que virá, 
Só posso te pedir que 
nunca se leve tão a serio, 
nunca se deixe levar,
que a vida,
a nossa vida passa e não há tempo pra desperdiçar."


- Lenine.

Delírios e dilemas.


    A madrugada corria lenta, puxando a todos para baixo, mas ela repetia ´não tenho sono. Estou completamente lúcida. Estou acesa.' Queria fazer barulho, mas não falava nada, só ficava andando de um lado para o outro procurando por problemas alheios para resolver, meio calada, meio falante. Prolixa, muito prolixa na fala e nem sempre condizente.
   Todos foram embora. Ficamos nós, as garrafas vazias e o silêncio. Ela fumava seu cigarro desesperadamente. Acendia um no outro, hora tão estatica que nem piscava, fixada em algum ponto do seu infinito particular com aqueles grandes olhos negros, para logo depois ficar tão hiperbolicamente inquieta que me irritava. Andava de um lado para outro da casa, olhando para todos os lados, com um traço de desespero nos olhos. Encostei-a na parede, tirei seu cigarro da mão e disse que estava bebada, que era melhor tomar um banho e ir dormir. Ela riu e disse com as exatas palavras de Caio F.: "me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída." E me beijou com força. Saiu, ligou o som e foi para o banho enquanto o som de guitarras rasgava a madrugada.
   Estava deitado quando ela voltou e se aconchegou no meu abraço. Dormiu por meia-hora, no maximo. Hora tremia de frio e se enrolava no cobertor, hora chutava-o para o chão, toda molhada de suor. Levantava e ia para a varanda fumar e bebia o café forte e amargo. Mas por dentro, ela sentia, nada esquentava.