domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Que se há de fazer...

...com a verdade de que todo mundo é um pouco triste e um pouco só?"

Acordou às três da manha com o peito ardendo em dor e os olhos perdidos em lágrimas.
O livro aberto sobre a cama, a janela aberta e o lençol no chão. Estava frio.
O frio invadia seus pulmões. 
A pele arrepiada. De frio, não desejo.
Arfava. A conhecida sensação de vazio sufocava-a.
Os sonhos tão cheios dele impunham o vazio sobre ela.

O problema dos sonhos é que eram reais demais. Não tinha nada de absurdo. Eram um monte de cenas do que ja tinha vivido.
Abraços imensos. Se perdia naqueles braços quentes.
Beijos intermináveis. Perdia qualquer noção de tempo e espaço enquanto se entregava.
O cheiro. Sentia o cheiro dele e a sensação do que ele trazia.
As lembranças, tão cruéis, passando inteiras pela sua mente. Todos os detalhes, agora tão dolorosos.

Levantou-se, recolheu o livro, colocou em cima do criado, junto a luminária acesa.
Sentou-se na cama, apagou a luminária e puxou o lençol para si, encolhendo-se.
Permaneceu assim, imóvel por um bom tempo. De pálpebras cerradas e coração latejante. Como um animal assustado, acuado no próprio medo.
Aos poucos foi se rendendo ao cansaço e à tensão. Só tinha mais 2 horas pela frente até o horário de levantar e enfrentar o mundo novamente, com o sorriso de sempre.



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Verdades despertas

Uma fada me veio hoje.
Veio com o vento e com o vento se foi...
dançando, rodopiando em suas melodias farfalhantes.
Ela se mostrava e isso a fazia tão real... Cheia de suas cores e dores.
O peito trajado de flores e as mãos quentes no meu rosto.
Tinha o mundo no olhar sonhador.

Abraçou-me,
Forte e suave.
E sussurrou em meus ouvidos:
'Chorar, não significa que somos fracos.'
É única coisa que nos lava verdadeiramente a alma.
Entregar-se é o auge do seu amor e independência.

E eu segurava as lágrimas das verdades delicadamente colocadas em minhas mão enquanto abraçava aquela lufada de vento.
Quando se foi brincou com os meus cabelos.
O vento o fez.

E nas minhas mãos fechadas, aquelas verdades nuas e cruas que quase me fizeram voar.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

How?

Precisava embriagar-se... De agua de chuva. De lágrimas contidas. De abraços não dados.

"Never before, never again
you will ignore, I will pretend,"

Eu não sou nenhuma máquina. 

Eu não tenho que ser forte só porque eu preciso ser. Só porque eu sou forte.
Eu não preciso ter coragem só porque eu eu sou corajosa.
Eu não tenho que sorrir sempre, só porque meus lábios ja sabem seguir o curso sozinhos.


Sucumbir sob lembranças é tão mais sangrento que enterrá-las.
Não poder escrever pra fora todas elas é tão...pesado.
Elas ficam aqui, rodeando minha cabeça... Espetando, machucando... Como cacos afiados ou espinhos encravados na pele tão profundos que é impossível retira-los sem causar estragos ainda maiores (Será isso possível?).


"If you, if you could get by, trying not to lie,
Things wouldn't be so confused and I wouldn't feel so used,
But you always really knew, I just wanna be with you."


Estou cansada hoje.
Ando cansada há um bom tempo, mas hoje, com a chuva caindo, ficou mais evidente. Mais Irritante. Enjoativo.


Everytime we meet you took something away from me. And, until now, I just don't know how I could let you do that to me. How could I let things get to me so bad?


E o que mais me dói é saber que depois de tudo isso... O que restou em mim foi nós.


Você e todas as suas doces mentiras.


"How you said you never would leave me alone (...how)"

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Assombrosa delicadeza

E a terrível sensação de ser subjugada por uma fraqueza que pensava não mais existir invadia-a, amarga, pesada, dolorosa. Ardia no peito.
Sentir-se fraca no exato momento em que achava ter toda a sua força reunida para enfrentá-lo.

Mas o choque foi grande demais.
Tão doloroso.
E essa dor veio de surpresa a socar-lhe o estômago. Sentiu o estômago contrair-se violentamente sob a força dela. Os pulmões obrigados a soltar o ar. 
Não respirava. Apenas sentia o peito arder de dor, medo e raiva.

********

É, não há muito o que dizer sobre a assombrosa delicadeza de certas coisas.

Percebera tarde que a dor sempre estivera ali. Aprisionada sob uma finíssima camada de gelo. Tão vulnerável... Assustadoramente quebrável. Um sopro era capaz de derretê-la.
Era transparente, mas ela a escondia sob uma escuridão densa demais. Intransponível.
Como um véu de seda sob pesadas e densas cortinas de veludo negro.

Esteve por muito tempo em silêncio. Um silêncio alto demais. Dentro de si era um verdadeiro caos. Ela gritava em silêncio.
Agora o silencio interiorizava-se e passara a falar demais. Falava demais para se expor de menos. Falava tanto que não dava espaço para ser. Só via as pessoas sendo, mas não absorvia como antes. Só gostava de observar... Era como um filme em alta velocidade... Um fluxo febril.

E a vida ia passando, passando, correndo, voando. Movimentando seus cabelos nas indas e vindas velozes, fugazes. E ela sempre lá, parada, observando, de olhos hirtos. 

Houve um pequeno rasgo no véu, um pequeno trinco na fina camada de gelo. 

Tinha medo do medo que sentia, porque sentiu o cheiro do que estava escondido.
O cheiro doce. Doce demais. O cheiro doce e enjoativo.
Cheiro de sangue de feridas incuradas. 
E isso dava medo. Sentir esse medo a amedrontou.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sensações imprevisíveis.


O breu. As luzes. O suor. O ar abafado.
As centenas de pessoas ao redor.

O palco era simples, a iluminação o transformava. Os tranpostava.
Estava logo em frente ele.

Sentia o peso das centenas de pessoas à minha volta e o calor era insuportável.
Elas pulavam, gritavam, empurravam.

Eu lá, tão miúda no meio da multidão. Evolvida pelo extase do momento. 

Foi quando a musica começou. Arrepiei ao ouvir os primeiros acordes...
Então Dolores O'Riordan aproximou-se do microfone e soltou a incrivel voz. 

A musica? 
Daffodil Lament.



O arrepio continuava por toda extensão do meu corpo e começou a se intensificar quando as palavras eram expulsas pela minha boca, com todo o vigor dos meus pulmões.

A canção gritada com a alma se transformou numa espécie de exorcismo das lembranças ainda em mim contidas.
Não, não iria derramá-las em lágrimas silenciosas. Elas foram soltas no ar quente a abafado, atraves daquela canção gritada. 
Uma vez no ar, foram esmagadas. Um turbilhão de gritos, acordes e agudos pefuraram-nas, derrubaram-nas.
Foram pisoteadas e jazem além do âmago na terra agora.

"And the daffodils looked lovely today, looked lovely"































...looked lovely"