domingo, 2 de maio de 2010

Só poeira.

"Eu tive um amor,
mas foi a dor que me ensinou a ser quem sou"


Eu me apaixonei primeiro pelo seu sorriso.
O cara de traços fortes e misteriosos com o sorriso mais deslumbrante do mundo.
Você sorria e ligava o sol da minha vida. Tudo ia embora. Era a melhor sensação do mundo.
Não havia mais tristeza, nem medo, nem pesar. Não havia angustias e nem mesmo o peso acumulado dos dias que se passaram. Só havia você, eu, nós. Só havia o calor e a luminosidade do seu sorriso.

É engraçado lembrar disso agora. Não, não o lembro com pesar, mas é só essa maldita nostalgia que veio me assombra na noite de hoje.
É engraçado lembrar, porque foi isso que me levou à ruína. 
É que ver um sorriso dá vontade de me jogar num abismo. E foi isso que eu fiz. Joguei-me e senti a plenitude da queda livre. Toda a dor se transverteu em asas, num vôo deslumbrante. Deslumbrante sorriso.
Mas com o tempo você foi sorrindo menos e seu sorriso foi se transformando  de sol a buraco negro. Buraco negro, porque eu nunca deixei de me perder no seu sorriso, mas ele foi ficando mais sombrio, menos sincero. Foi sugando minha alegria de vê-lo, aos poucos.
E é foi aí que na queda me veio o chão. Duro, impiedoso. Espatifei-me e de mim sobraram só cacos. 

"Shards of me too sharp to put back together
Too small to matter, but big enough to cut me in to
So many little pieces, if I try to touch them."


Mas depois disso eu posso até agradecer. 
Eu que achei que não viveria, que as feridas jamais se fechariam. 
Na verdade elas não se fecham direito. Ainda latejam, mas como um aviso. E a cicatrizes são eternas, às vezes eu sinto uma coceira irritante nelas, mas trato logo de ignorar. Elas são a lembrança de que eu estou viva e de que, um dia, tive um coração pulsante.
Eu, que sempre andei de peito aberto, agora visto minha armadura e, de escudo bem posicionado, caminho em meio aos destroços.
Eu, que sempre me ajeitei bem com as palavras, agora me perco nelas, no desespero de me desafogar. Mas agora eu sei, mais que nunca, que palavras não valem nada. Na maioria das vezes, são só instrumentos da mentira.
É inacreditável como elas se tornam essenciais para o amor. É inacreditável o quanto ficamos estúpidos diante delas quando se ama. É simplesmente tão fácil acreditar em qualquer palavra que se ouve, quando se ama. Não se desconfia delas. Simplesmente acredita-se. É como beber água da fonte, quando se está caminhando sedento por terras áridas.

"They’re just words, they ain’t worth nothing"

Sorriso. A arma mais linda e mais letal do mundo.

O problema dos sorrisos é exatamente esse. São irresistíveis. 
Mesmo sabendo do abismo que são. Mesmo sabendo da dor que eles podem trazer quando enganadores.
São irresistíveis e diante deles nos tornamos Pandora diante de "sua" caixa.

Um comentário:

  1. Essa foi uma das conversas mais sensatas e verossímeis ,dos ultimos dias!

    Lindo post!

    (L)

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