segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Partida.

Tanta coisa, tanta coisa.
E tão pouco tempo pra se perder.

Ontem dormi pensando no porre não tivemos juntos. É, sei bem que já tivemos vários porres juntos, mas pensei logo naquele que não existiu. No rock que a gente não ouviu e no riso que a gente não deu.
Tentei pensar nos nossos beijos, mas só me veio à cabeça aquele que não aconteceu. Fiquei pensando por horas no que a gente não viveu.
Não tenho dormido muito bem e já não consigo parar de tomar meu café amargo. Pra acordar? Pra não sonhar? Sei lá. Só sei que aquele porre que não tivemos me assombrou a noite toda.
Lembro de como eu fiquei estagnada na rua enquanto você me esperava no bar. Não tinha lua naquela noite. Era tanta coisa e tanta coisa se perdeu.
Não fui pra casa, só fiquei lá, na rua. Tinha uma árvore perto, de folhas secas, que farfalhava à qualquer sinal de vento. O som era bom, me fez lembrar a cachoeira perto da qual dormi uma noite. Estava quente, excessivamente quente. A luz do poste era amarela demais e ficava falhando. Acendia e apagava, até que esqueceu-se de acender de novo. Então eu vi quantas estrelas tinha no céu.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sons.

Por um tempo, dois sons me encantavam à noite: O farfalhar das folhas e o seu arfar.
Daí você foi embora e o vento parou de soprar. O silêncio parecia grande demais para a cama vazia. Mudei então para um apartamento no centro da cidade. Não era grande, o que fazia minhas noites parecerem menos vazias. Vivia cheio de gente, mas isso só enchia o apartamento. O peito eu tentava encher com vodka. Adiantava as vezes, à noite, só à noite. Era muito barulhento, o tempo todo. Era bom, eu não escutava o silêncio, nem me encolhia para não doer.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cheiros e gostos.

Era quase manhã e eu cheirava a vodka quando entrei no apartamento, sozinho.
Eu me joguei na cama, do jeito que estava, pensando apagar rápido. Mas me veio o cheiro do perfume dela, impregnado nos lençóis da noite passada.
Um nó amarrou minha garganta com assustadora violência. As coisas mudaram de rumo de maneira extremamente brusca. Me deixou meio tonto ver ela saindo do quarto, em cima do salto vermelho como se nada tivesse acontecido. Como se as peças de vidro e cristal do meu apartamento não estivessem estilhaças sob o seu salto. Outras coisas foram estilhaçadas, mas não era visível para qualquer um outro além de mim. Ela era um furação. Um furacão irresistível demais para a minha quietude.
Fui dormir com o gosto tão amargo de choro engolido. Acordei de olhos ardendo e inchados, abraçando aquele lençol.

"E seria cruel demais para mim lembrar agora que cheiro era esse, aquele, bem na curva onde o pescoço se transforma em ombro, um lugar onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao cheiro de outra pessoa"


- Caio F. Abreu em “Os Dragões não Conhecem o paraíso”.

domingo, 5 de setembro de 2010

Never say it.


O cinzeiro estava cheio de pontas de cigarro, a maioria delas manchadas de vermelho.
Eu só olhava, ali do lado, sentindo o perfume dela. O perfume parecia único, nunca senti mais ninguém com aquele cheiro, felizmente. Seria difícil resistir à qualquer tipo de lembrança.
Ela falava ininterruptamente sobre algo que acontecera em sua ultima viagem. Adorava ouvir sua voz.
Ela se calou para tragar o cigarro e me sorriu com os olhos. O tipo de sorriso que me fazia acordar com ressaca na manha seguinte.
Abaixei a cabeça e pedi um drink para calar a minha sede de dizer que a amava.

Sentimental (Cartas II)

"Não me arrependo de nada. Mas vezenquando passa pela cabeça um 'ah, podia ter sido diferente.'"
Caio F.

Houve um longo hiato até que voltássemos a nos falar. Um hiato ainda maior para falarmos das coisas que aconteceram entre nós. Sutil. Não com culpa, nem com magoa e essas coisas. Com riso até.
Taí uma coisa que vou levar pra sempre: nós e nosso riso.
Não há muito o que ser escrito disso, aqui, nesta carta. O que houve é passado irremediável. Houve espera, culpa e tudo mais, de ambas as partes. Algumas coisas vieram só de mim, outras só de você. Sei que no passado fui meio imatura, mas era isso o que eu era.
Mas isso não importa mais.
Segui outro caminho, você também. Caminhos com mais coração, talvez. Mas disso nunca saberemos. Dançamos com outro par. A minha valsa acabou, mas espero que a sua continue te embalando pra felicidade.
Conversamos, com cervejas nas mãos e riso nos lábios, sobre nós e a nossa canalhice.  Foi bom. Tem sido bom te ver, te falar, estar perto e só.
Você vomitou essas palavras que precisava, sem segundas versões e isso é uma coisa que gosto tanto em você.
Acordei pensando em nós e me dei conta que nunca menti pra você. Isso me fez rir.
Não me arrependo de nada que tenha acontecido entre nós e de nada que nos tenha trazido ao que somos hoje. Mesmo havendo coisas ruins e hiatos.
Não sou só um furação que as vezes passa e vai embora só causando estardalhaço. Nem essa imagem que você disse que desenhou de mim. Posso ficar também. Ser um vento forte, mas constante.
De qualquer maneira, essa música que não ouvimos há tanto tempo pode tocar agora.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Início.


"Você tem fogo?" perguntou, sem ter sequer um cigarro consigo.
E ela, que nunca fumara na vida, respondeu que tinha.
 

quarta-feira, 1 de setembro de 2010


São equilibristas.
E cada passo é uma história
de perdas ou ganhos.
Cada passo é um medo.
Cada passo é coragem.
E a cada passo,
o peso de todos os outros,
percorridos ou não.
Um passo, um pássaro, um passado
 nas vias tortas do coração.

Bicho de sete cabeças. (Cartas I)

Não estou querendo me isentar da culpa, nem diminuí-la. Mas nada muda o fato de que você fez disso, um bicho-de-sete-cabeças.
Ainda não busco justificativas para meus erros não e mal pensados.
Você tinha a escolha de não me escolher, de não me ter. Mas não foi isso o que escolheu, certo?
Sei que fiz do meu erro, um erro seu, mas não foi de propósito. Uma hora a gente colhe o que plantou.
Nunca foi minha intenção causar-lhe qualquer tipo de dor ou arrependimento.
Não venha me dizer "aguente as consequencias" como se eu estivesse procurando uma maneira de fugir delas. Eu não: aceito-as de peito firme.
Eu só quero fazer você enxergar que o que eu fiz, não foi de caso pensado, não foi esse bicho-de-sete-cabeça, o qual você alimenta constantemente.
Sabemos que não sou certa nessa história, mas também sabemos que nenhum de nós podemos julgar os erros dos outros. Não que você tenha errado comigo, é claro. Não, não comigo.
Seu erro foi me seguir, eu disse que não era seguro. E quando a Lua me chama as coisa se tornam mais imprevisíveis.
Talvez eu tenha dado pistas demais, no lugar de falar claramente. Talvez eu tenha falado demais... ou de menos. Talvez eu tenha bebido demais e gastado demais o meu batom.
Eu já tenho um bom caminho percorrido, "tenho tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora" e isso me torna cansada o suficiente para ir atrás de você ou de uma maneira de reparar meus erros.
Cansada o suficiente para tentar mudar a minha incapacidade de ficar com alguém, por inteira.
Cansada demais pra acreditar em palavras doces.
Sei discernir o certo do errado, mas eu não sou muito de me arrepender das coisas que faço, ainda que seja a coisa errada.
Mas não há muito o que falar sobre certas coisas.
Melhor é beber um café forte.