segunda-feira, 30 de novembro de 2009

It's rainy outside.


  Estava chovendo lá fora. As gotas ainda caiam pequenas no vidro da janela... Estavam chamando-a pra brincar. Mas é que fazia tanto tempo que não se sentia viva que não teve outra escolha: Correu para chuva ainda calma e singela. Correu até a porta e respirou o cheiro absolutamente único que as chuvas têm. Inspirou e lentamente, como num ritual, andou para o céu aberto. As gotas caiam suave em sua pele, acariciando-a. Cada terminal nervoso seu sentia aquela sensação, como vários choques de baixa tensão. Sorriu para si mesma, fechou os olhos e andou pra frente em direção ao âmago da chuva, sentindo que sua coragem incitaria a força e invocaria a tempestade. Foi quase um desafio aos céus.
  Pois ela veio, a tempestade. As gotas ficaram mais grossas e não eram mais sutis carícias, eram pedaços, cacos... Todos os sonhos que tivera uma vez e que não se realizaram caiam despedaçados... pesados e densos sobre ela. O ritmo da chuva se intensificou e ela já não podia acompanhar com o seu coração.
  Sentiu o peso de tudo aquilo... da chuva, dos sonhos despedaçados, das aventuras não e mal vividas e dos abraços não dados. Sentiu o peso das promessas não compridas, das palavras não e mal ditas, das esperanças cansadas e das cores perdidas. Sentiu tudo isso e mais. Muito mais.
  Seus olhos ainda fechados ardiam e as lágrimas escorreram sob as pálpebras cerradas. Chorou. Chorou muito. Chorou por tudo e por nada. Chorou com o peito e com a alma. em plenos pulmões e magoas. Chorou... e à medida que chorava o grito preso e abafado na garganta se dissolvia nas gotas da chuva e das lágrimas.
  Ficou ali chorando, sentindo-se segura e em casa. Ali as lágrimas se fundiam com a chuva, não precisava fingir. Não sentiu nem o gosto de soro na boca.
  A tempestade durou um infinito inteiro e foi o tempo suficiente pra chorar tudo o que tinha e o que não tinha. A medida exata. Perdeu noção do tempo, lutando apenas contra o frio que penetrava através da camiseta e chegava até a pele arrepiada. Não houve razão, apenas um rasgo enorme. Um alivio enorme. Uma descarga elétrica que se acumulara há pelo menos 7 anos desceu rasgando os céus e a dor a meio. O estrondo foi tão forte que a terra tremeu sob seus pés descalços.

Está chovendo lá fora e dentro de mim há uma vontade imensa de mergulhar no abismo imenso que é pensar e sentir.



Jessica Machado.

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