sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Torpor


Me arrasto numa tentativa fracassada de caminhar, de levantar.
A casa está uma bagunça e todos os meus cacos estão pelo chão. Pequenos e frágeis demais. O suficiente para serem levados, ou arrastados, pelo vento frio que corta a pele em tantos lugares quanto possíveis. O suficiente para serem desgastados pelo atrito com o chão frio, transformando-se em poeira.
E eu vendo toda a minha essência virando pó. Pó solúvel em agonia, como fé.
Cansada de palavras vazias encantadas com sorrisos que não se estendem aos olhos, suspiro a fumaça densa do incenso aceso. Recolho-me ao pé da valsa e (des)danço a minha dor. Ao som agudo dos violinos sinto-me cada vez menor, diminuída pela sua auto-confiança dilaceradora, avassaladora.
O som sublime que antes me acalmava faz minha cabeça girar com as caleidoscópias lembranças suas, nossas.
Suspiro mais uma vez e o chão gélido me derruba de minha tentativa fracassada. Encosto meu rosto no chão, tão frio contra minha pele que arde. Fecho os olhos. E a cada inspiração uma sensação desaparece. Gradativamente paro de sentir... Os cheiros, o frio, o sabor, a cor. Mas não a maldita dor.
Sutil e silenciosamente mergulho num torpor... "Entre a dor e o nada, eu escolhi o nada".
O mundo a minha volta... São só vultos, pedaços, retalhos, quadrados. Ou é preto ou é branco - e eu ainda luto para não perceber a sintonia desse contraste.
"I live but like a stone I'm falling down..."
Tampo os ouvidos. Fecho os olhos. E o vazio brutal me consome.

Jessica Machado.

Listening: Dances with Wolves Soudtrack.

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