quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Avulsidades de fim de ano.


   Sim. Somos auto-suficientes.


   É difícil perceber isso. É um looongo e árduo caminho até essa certeza. Ainda mais quando passamos muito tempo com uma pessoa e essa pessoa vai entrando na sua vida e você vai abrindo portas sem sair... Cultivam um sentimento um pelo outro e outro pelo um... E a cada dia que passa a idéia de ficar longe dessa pessoa vai se tornando mais distante, esmaecida e mais dolorosa. O tempo juntos é o que há de melhor. Te faz feliz, Te faz...completa.

   Sem mais delongas... Aí vem ele. É, ele mesmo, o temido, o impossível "fim".
   E então chega o fim.
  Acaba-se tudo. E a ausência da pessoa te fere, te tortura, te mata aos poucos. Não há mais cor, nem sabor. Não há alegrias, risos ou abraços. Não há nada, exceto a dor excruciante da falta. E que substantivo cruel é ela.

   A ausência. A falta. É um pouco como fome... Lenta e dolorosa vai te consumindo por dentro, comendo os sonhos bons, as noites bem dormidas, o riso... O sono e o sonho.
As coisas perdem o sentido. E você não vê mais o porquê das coisas que você sempre costumou fazer.

   Mas sabe... O tempo passa.
   E olhe que não sou do tipo que acha que o tempo cura tudo. Ainda não.
   Mas uma coisa é verdade... O tempo não cura tudo, mas tira o incurável do centro das atenções. E isso já é um começo e tanto.
   Pois bem. O tempo passa. E a medida que isso acontece você vai ficando mais forte. Recolhendo as coisas que deixou pelo chão.

   Um belo dia você acorda com uma coisa diferente no peito. É uma vontade estranha. Resolve segui-la, pois qualquer coisa deferente do que está sentindo é bom. Então, levanta da cama e olha o quarto. Está tudo uma bagunça. As roupas estão por todo ele, assim como as lembranças. Essas são as piores. Maldosinhas se escondem em tudo quanto é lugar quando você tenta limpá-las... Mas isso é outro assunto.
   O quarto está quente, abafado, sufocante. É preciso abrir as janelas e é isso o que faz. Tem que fazer.
   Abre a janela, respira fundo e começa. Começa.
   É um caminho longo, sério. Eu mesma estou muito longe do fim dele, mas continuo caminhando. Às vezes paro, olho pra trás e sinto uma vontade enorme de voltar. Regredir. Mas algo dentro de mim me impede. O medo talvez, afinal ninguém gosta de sofrer. Mas é que às vezes dá um desanimo.
   Começa, arruma a cama, recolhe as roupas e tenta espanar um pouco as lembranças. Escuta uma música animada e antiga. Dançante até. Uma música que não escuta há muiito tempo. Abre os armários e tira as coisas inacabadas. Papéis, medos, sujeira. Tudo antigo e antiquado. Joga tudo fora. Lugar de tralha é no lixo.

   Recolhe as lembranças, fotos, presentes, sem prestar muita atenção nelas, meio automaticamente. Junta tudo, coloca numa caixa e guarda em um lugar esquecido. Não, não está pronta pra jogar tudo fora. Não agora, é cedo ainda. Mexe numas coisas velhas, de quando você ainda nem sonhava em se dividir com alguém do jeito que acabou acontecendo... Vê fotos, relê cartas, e-mails, lembranças, presentes e até aquelas coisas que qualquer outra pessoa acha que é lixo, mas pra você lembra um dia, uma festa, um amigo ou vários deles. Faz tudo isso e ri. Fica vendo e rindo, nostálgico. Se enche disso.

   E aí está. Um motivo pra continuar. Cata os cacos e começa a seguir em frente. É difícil, eu sei (e como sei), mas vale a pena tentar. Você tem que tentar. E o mais importante, você olha em volta e vê todos seus amigos, sua família. Porque sem eles, caraa, não dá pra viver. É impossível ser feliz sem amigos de verdade. E nessas horas você sabe em quem pode se apoiar até conseguir caminhar sozinha. E dessas horas que você tira aqueles que vão ser pra vida toda. Você vê quem ta do seu lado.. Eles não pedem nada em troca não. Não pedem, mas você percebe que pode dar você em troca...

   O que? Se dar? Até pouco tempo atrás você não tinha nada nem pra você e agora pode dar algo? Mentira, você sempre teve tudo o que você é. Porque você é, sempre foi e sempre vai ser você.

   Dividir-se com alguém é bom, mas quando acaba você pensa que não tem mais nada, que perdeu tudo. Mas não perdeu tudo. Perdeu sim tudo aquilo que construiu junto, que adquiriu junto, e até mesmo perdeu um parte de você, que você deixou com a outra pessoa. Pois afinal, depois de um tempo vocês passam a ser um só, se há amor de verdade. Mas o que você era antes de tudo, você continua sendo e se houve amor, você adquire coisas que nunca vai perder. Nunca. Você cresce, amadurece. E vida nunca se perde.

   E quanto à auto-suficiência. Bom, sinceramente, nem eu cheguei a essa certeza ainda. Mas sei que vou chegar lá.

   Lembrando de uma coisa muito importante: Hapiness is only real when shared.

Um comentário:

  1. "Mas uma coisa é verdade... O tempo não cura tudo, mas tira o incurável do centro das atenções. E isso já é um começo e tanto."

    Verdade!

    Tem muito sentimento no que você escreve.
    E você escreve muito bem.

    :*

    ResponderExcluir