sábado, 13 de fevereiro de 2010

Assombrosa delicadeza

E a terrível sensação de ser subjugada por uma fraqueza que pensava não mais existir invadia-a, amarga, pesada, dolorosa. Ardia no peito.
Sentir-se fraca no exato momento em que achava ter toda a sua força reunida para enfrentá-lo.

Mas o choque foi grande demais.
Tão doloroso.
E essa dor veio de surpresa a socar-lhe o estômago. Sentiu o estômago contrair-se violentamente sob a força dela. Os pulmões obrigados a soltar o ar. 
Não respirava. Apenas sentia o peito arder de dor, medo e raiva.

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É, não há muito o que dizer sobre a assombrosa delicadeza de certas coisas.

Percebera tarde que a dor sempre estivera ali. Aprisionada sob uma finíssima camada de gelo. Tão vulnerável... Assustadoramente quebrável. Um sopro era capaz de derretê-la.
Era transparente, mas ela a escondia sob uma escuridão densa demais. Intransponível.
Como um véu de seda sob pesadas e densas cortinas de veludo negro.

Esteve por muito tempo em silêncio. Um silêncio alto demais. Dentro de si era um verdadeiro caos. Ela gritava em silêncio.
Agora o silencio interiorizava-se e passara a falar demais. Falava demais para se expor de menos. Falava tanto que não dava espaço para ser. Só via as pessoas sendo, mas não absorvia como antes. Só gostava de observar... Era como um filme em alta velocidade... Um fluxo febril.

E a vida ia passando, passando, correndo, voando. Movimentando seus cabelos nas indas e vindas velozes, fugazes. E ela sempre lá, parada, observando, de olhos hirtos. 

Houve um pequeno rasgo no véu, um pequeno trinco na fina camada de gelo. 

Tinha medo do medo que sentia, porque sentiu o cheiro do que estava escondido.
O cheiro doce. Doce demais. O cheiro doce e enjoativo.
Cheiro de sangue de feridas incuradas. 
E isso dava medo. Sentir esse medo a amedrontou.

Um comentário:

  1. Você escreve muito bem Jey *-*

    "Esteve por muito tempo em silêncio. Um silêncio alto demais. Dentro de si era um verdadeiro caos. Ela gritava em silêncio.
    Agora o silencio interiorizava-se e passara a falar demais. Falava demais para se expor de menos. Falava tanto que não dava espaço para ser. Só via as pessoas sendo, mas não absorvia como antes. Só gostava de observar... Era como um filme em alta velocidade... Um fluxo febril."

    Eu acho que sei como é .-.

    "Cheiro de sangue de feridas incuradas.
    E isso dava medo. Sentir esse medo a amedrontou."

    Esse post tá pefeito.

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