sexta-feira, 5 de março de 2010

Incolor, nu e cru.

A noite seguia lenta em seu vasto breu, enquanto ela se acomodava em cima da pequena mureta de pedra.

De uma lado, o mundo manso e mentiroso.
Do outro a verdade nua, sob a luz da lua crua.
***

22:43. Noite de quarta feira. Enormes buracos abriam-se no peito. 
Feridas antigas, mas nunca cicatrizadas, sangravam novamente.
A pele era rasgada. 
Enfiaram-na em uma mistura de alcool e sal.
O peito era dilacerado por uma dor devastadora, pior que a própria morte.

6:59. Manha de quinta feira. Mergulhava num abraço, afogada em dores e rancores. 
Dobrava-se. Era intenso demais.
Enquanto as lágrimas esgasgavam e ardiam os olhos, um turbilhão de sentimentos transbordava no peito.
A sensação era de água fervente sobre a pele.
Prata fundida.
Não havia cores.
Nem branco, muito menos cinza. Tudo preto. 
Absolutamente enegrecido.

4:11. Tarde de quinta.
Escrevia em seu caderno. Quase dentro de um transe incosciente.
Como ele pode fazer isso comigo?
     Eram as minhas palavras,
                o meu sangue,
                    as minhas lágrimas...


1:23. Madrugada de quinta feira. As feridas sangravam, espalhadas por toda a extensão do corpo nu.
Os lençóis encharcados de lágrimas, impregnados de sangue, soro e saudade.
Cobria suas feridas com panos encharcados de verdades inventadas.
Palavras prontas, olhares vazios.
O sorriso bem treinado no rosto.

2:13. Madrugada que quinta.
Convencia-se de suas verdades inventadas, quando houve um desabamento dentro de si.
Ultraje. Blasfêmia. Foi o que foi feito contra um sentimento tão real e puro.
Onde estava a honra, afinal?
Estúpida! Ela nunca existiu.
Onde estava o respeito então?
Bossal. Ele deixou de existir há um longo tempo atras.
Mas crueldade?
Como ousas vulgarizar o que veio de profundezas tão cuidadosamente escondidas?
Esclareci-as para você. E o que fez com as palavras que as tornaram claras?
Blasfêmou. Jogou-as ao vento.
Cuspiu-as a estranhos.
Sem dó, sem remorso. Até mesmo com divertimento, não duvido.

Estava sobre os escombros. 
Acendeu a vela e recolheu o necessário. Fez o que tinha que fazer.
Um bom momento de sono e um bom sonho. 
Não interessa se falso, forjado ou chamado (implorado).

21:27. Noite de sexta feira.
Ainda estava sobre os escombros.
Alguem essencial disse nesse mesmo dia: "Não gosto quando seus olhos ficam assim".

"I'm sorry that you have to see
the strength inside me burning"



É impossível fingir bem quando há um caos dentro de si. Um caos que só te empurra pra baixo. Fundo e mais fundo.
É impossível fingir bem quando seu exército é completamente derrotado.
Fica só um soldado segurando tudo. Ele é forte para deixar as lágrimas serem derramadas, mas não o bastante para não deixar rastros dessa batalha.

Cada vez mais fundo e mais frio.
Cada vez mais doloroso.

Não, não há cores aqui.

Pesado demais. Delicado demais.

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