quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

“Mas estava feito”.


   Andava sem rumo pela cidade, como vinha fazendo há um mês.

   A cidade suja e caótica, onde ratos espreitavam avidamente os desavisados, prontos ao ataque, prontos para sugar quase toda a vida ao redor objetivando sustentar seus vícios asquerosos.
   Há um mês Andava sem rumo, em um ritmo diferente de todos... Saíra da casa dele sem saber o porquê. Simplesmente não suportava mais aquela casa que não era sua, não suportava também não ter um lugar para chamar de casa...
   Passava a noite na casa de amigos. Um dia lá, outro dia aqui... Sem planos, sem rumo, sem nada, mas principalmente, sem sonhos. Não sonhava mais, não conseguia ao menos dormir. Quando deitava e fechava os olhos, cansada de tudo, um buraco negro se abria em seu peito, tão forte que pressionava toda a matéria contra ela e a fazia arfar, asfixiada. E a cada dia que passava a sensação piorava e o buraco aumentava. Um preço que sabia que tinha que pagar, o preço pela traição, pelo abandono. O preço muito caro que pagaria para o resto da vida, a não ser que...
   Não, não poderia voltar atrás, fizera o que fizera por ele, e se ele ficasse bem, nada mais importava, nem ela mesma. Desistir do que mantinha suas emoções pulsantes não fora fácil, fora cruel e extremamente doloroso, mas se no fim fez com que ele se sentisse realmente bem e o livrasse de toda a dor...
    Mas era um fato doloroso. Viver só aqui, no mundo real, onde tudo é pesado, escuro e vil. Um caos. Lamentava-se por ter perdido o único feixe de luz que desfazia o buraco negro em seu peito. Seus sonhos, o mundo dos sonhos e suas borboletas.

   “Mas estava feito”.

   Não havia mais beleza velada, não havia mais rosas negras na triste sina que estava fadada a seguir. Não nascera para isso. Tudo tão real, cru e direto, como sempre fora a sua vida antes de descobrir o caminho que tinha que seguir, e que abandonara há pouco mais de um mês...

Jessica Machado. [17/01/2009]

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