quarta-feira, 27 de abril de 2011

E toma mais um gole de café amargo. (II)

O momento-quando fica para sempre gravado na memória, não é? 
Tinha feito seu caminho, crescido, mas aquela marca era para sempre. Um marco, uma divisão.

***
Ele olhava aquela menina sorridente e de olhos tristes. Quantos anos ela tinha? Sete? Treze? Era tão estranho o jeito de menina e o rosto de gente crescida... impossível saber, pensou.

- Já te contei da minha teoria dos corações inchados? - ela perguntou.
- Não. - ele respondeu rindo.
- É a seguinte: Einstein disse "A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original". A minha teoria é que um coração que se abre para um amor jamais volta ao seu tamanho original. Ele se expande, enche, incha, sabe? A "massa" aumenta... Mas aí a pessoa vai embora, mas o amor não.
- E o que acontece então? - perguntou com o rosto apagado, já não sorria mais.
- Aí a gente sofre mais do que um dia imaginamos que sofreríamos e o coração sente tal dor lancinante que parece falhar ao bater. Mas ele não retorna ao tamanho original, apesar de que a "massa" retorna ao seu valor inicial.
- Mas como?
- É que quando a pessoa vai embora, arranca um pedaço do nosso coração junto.

(Silêncio)

- Entendeu agora? O coração continua maior, inchado, mas vazio, esburacado, nunca mais para de sangrar.
- Nunca mais? Não cicatriza?
- Isso eu ainda não sei dizer. Queria poder dizer que sim. Quero. Espero. Mas a dor diminui e o sangue correndo passa a não ter tanta importância quanto no começo.  Mas isso também depende de você: enquanto você quiser sofrer, vai continuar sofrendo e a dor não diminui. Agora, quando você decide descer do muro e seguir em frente, chega um hora que só incomoda.

 (Silêncio)

Não era uma menina, afinal. Devia ter seus 19, pensou com um nó na garganta.

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