quarta-feira, 23 de março de 2011

"Você está bem?"

Eu estava calada havia um bom tempo enquanto fitava o copo em minhas mãos. Estava imóvel, sentada ao lado dele. Não me lembro quando o silêncio tinha começado, mas sei que era do tipo de silêncio confortável, que eu tanto gostava. Ele devia saber que havia algo errado, porque aquela noite eu estava simplesmente cansada demais. Falei pouco, sorri ainda menos, mesmo com o copo sempre cheio em mãos. Mas ele não falou nada por um bom tempo. Ficou ali, me fazendo companhia no meu silêncio. Talvez soubesse que se perguntasse algo, eu fraquejaria a ponto de falar que não estava bem. Assim pensava, pelo menos, porque algum tempo depois veio a pergunta.
"Você está bem?"
Eu sorri nesta hora - o tipo de sorriso que não se estende aos olhos - e suspirei, porque eu sabia o que ele estava fazendo. Queria me dar um alivio, fazer eu colocar para fora aquilo que pesava tanto dentro de mim. Me fazer vomitar um testamento de palavras embargadas em lágrimas, mostrar a cara, o coração em carne viva e o peito ardido. Me abraçar enquanto eu chorava até a camisa dele ficar molhada das minhas lágrimas.
Ou pelo menos era isso o que eu queria que ele fizesse, enquanto não havia nada ali, só dessas perguntas que a gente faz, mas não quer saber a resposta de verdade. Mas quando a lua ta minguando e as coisas começam a ficar pesadas, a gente vai criando coisas na nossa cabeça. Um monte de castelos de areia, que quando a gente abre os olhos só vê a areia lisa da praia, de onde as ondas acabaram de bater.
Eu queria que fosse isso, eu queria um colo. Queria responder "Não, não to bem." E contar o que tem me atormentado, o que tem me feito ter sonhos ruins e acordar com o peito doendo. Contar que meu peito estava doendo pra caralho, que minha cabeça tava cheia e meu coração apertado. Eu queria falar tudo e desafrouxar esse nó da minha garganta.
Mas na hora eu só segui o cliché: "- To sempre bem." Foi essas palavras que saíram da minha boca, enquanto meus olhos diziam tudo isso que eu queria dizer. E o diziam para os olhos negros dele. Aqueles olhos que sempre entenderam os que os meus - igualmente negros - diziam.

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