sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ja não está aqui quem falou.


Fitava o vão da porta aberta.

A presença dele naquele portal, diante de si, a tão pouco tempo, só fez aumentar o vazio daquela visão. Ainda mais.

Paralizára-se pelo medo das palavras.
Estacara-se diante da porta vazia e aberta e olhava para o infinito que jazia ali, inalcansável.

Estava particularmente frio aquele dia. Sentia-o em seus osso. O frio.
A lua despencava de uma altura absurda e vinha acariciar tão delicadamente a pele branca daquela pequena criatura.
O vento entrava pela porta aberta, vazia, e brincava com seus cachos avermelhados.
Abraçava-se enquanto, com uma disciplina militar, segurava as lágrimas que, furiosas, tentavam derrubar a barreira. O nó na garganta doía-lhe imensamente, mas não ousaria deixar rolar uma lágrima sequer. Pois se uma unica lágrima corresse, jamais teria força o suficiente para impedir que seu rosto fosse inundado. E uma vez derramadas, não cessariam nunca. O coração continuaria molhado, mesmo de olhos secos.

O luar aos poucos diminuiu e o céu foi tomado de vermelho. A chuva caiu fina, fina.
Ela viu o contraste dos pequenos pingos contra a luz amarelada do poste.
Choveu a noite inteira e ela ficou lá, de porta aberta, vendo e sentindo as lágrimas que o céu derramava em seu lugar.

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